sábado, 3 de julho de 2010

A NOITE DOS CRISTAIS PARTIDOS

Estradas paralelas
percorrem meu corpo
como duas linhas iguais
mas equidistantes.





Sou tudo o que há e o
que não há
paralelepípedos
no raso de meus olhos.





Paredes com pregos
seguram quadros
com retratos mortos
em cinzas maleáveis.





E eu percorro o corredor
com estátuas eminentes
que sobem a escadaria
em direcção ao quarto.





Máscaras lá dentro
recolho uma ao acaso
e me maquio em
um novo sangue.





Saio à rua onde tudo é
disforme e grotesco
um homem se recusa andar
completamente alienado.





E as crianças na sua macia
infância brincam com
o desgraçado
atirando-lhe pedras.





Cães uivam à lua
quando tudo parece
rasgado pelo silêncio
é a noite dos cristais.



A fogueira vai queimando
os livros que os nazis
negaram a luz do dia
e a cultura vai nua.





Meus olhos sangram
é preciso a ferida
para saber como foi
e como será doravante.

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