sexta-feira, 30 de julho de 2010

MEU PRIMEIRO AMOR

Naquela noite eu supunha que ela estava inspirada, mas não era inspiração, era sua alma que estava transbordando a seiva perfumada do amor, enchendo seu coração de ternura. Eu te amo tanto que nem sei como te dizer o tamanho e a quanto vai este amor que sinto por ti. Não sei se a sinfonia do rouxinol ou o perfume das flores seriam os melhores mensageiros para te falar do meu amor, mas o que eu sinto em meu coração, não tem explicação. Quanto mais eu tento explicar o meu amor, mais eu me aprofundo numa grande dor. Não te assustes com essa minha colocação, por que meu coração jamais teve medo da morte, eu tenho medo é da explosão do amor que sinto por ti neste meu coração.

Assim começava o último escrito deixado na folha daquele inesquecível diário de bordo.

O seu vôo saia às oito horas da manhã e o meu às oito e meia. Ambos éramos tripulantes de aeronaves comerciais. Foi num dia lindo, primaveril, que aconteceu nosso feliz encontro no saguão do aeroporto e foi ali que nos conhecemos. Ali naquele encontro o destino desabrochou o primeiro amor em dois jovens corações. Éramos semi saídos da adolescência, com a visão florida da vida. 21 anos eu tinha e ela 18. Nossos encontros se davam nos dias coincidentes de nossas folgas. Lembro-me que certa vez num parque de diversão eu lambuzei seus lábios com o chantili do sorvete que saboreávamos. Ela sorriu um riso de felicidade e encanto, enquanto eu lhe dizia, não limpe seus lábios, se foi eu quem os lambuzou serei eu quem deve limpá-los. Aproximei minha boca da sua e notei que seu rosto corou. Ela entreabriu os lábios ainda lambuzados de chantili enquanto com os meus, delicadamente eu fazia a limpeza, saboreando o gosto do primeiro amor. Sem nos conter nossas bocas se uniram. Foi ali que aconteceu o primeiro beijo de nossas vidas. A primeira namorada e o primeiro amor desabrochado no nosso coração são sólidos e abstratos que jamais os esquecemos. Numa linda manhã ela me ligou dizendo: Meu vôo sai às nove horas, quando eu voltar quero te encontrar para irmos a um restaurante e depois pegarmos uma seção do filme que eu mais gostei e quero revê-lo contigo, chama-se "o amor de nós dois". Se minha felicidade já era imensa, acentuou-se ainda mais com aquele convite que mais pareceu uma intimação. O filme que jamais assistimos juntos eu guardei junto as minhas lágrimas no meu coração, para relembrar meu primeiro amor, minha primeira namorada que naquele acidente aéreo Deus levou. Entregaram-me um de seus pertences que sobrou, o seu diário, que de suas folhas queimadas, só a última não se queimou. A folha do diário do meu primeiro amor, com as últimas palavras: Eu te amo tanto que nem a morte poderá separar-me de ti, mas Deus sim, mas eu te digo, se Ele quiser nos fará um dia nos reencontrar.

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