Não sei qual era o ano, mas tinha descoberto que quem trazia os presentes no Natal era a minha mãe e meu pai.
Nada de Papai Noel, nada de Menino Jesus.
Foi em um Natal que estávamos com as finanças de mal a pior e a mãe só podia comprar uma boneca, e que seria da minha irmã mais nova.
Por ser a mais velha (eu tinha 6 anos) eu já poderia ajudar a minha mãe a colocar o presente na árvore, na véspera de natal, depois da missa do galo.
Minha irmã ainda acreditava no Menino Jesus. Eu estava decepcionada, mas minha mãe fazia de tudo para que eu me sentisse importante, mesmo sem os sonhos de criança.
Levou-me para comprar a boneca e ela escolheu uma das mais simples que tinha na loja.
Só mexia as pernas e os braços e muito precariamente.
Minha mãe, com retalhos, fez um vestidinho todo rodado com rendinhas na barra e nas manguinhas. Ainda fez a combinaçãozinha e a calcinha. Tudo combinando. Eu acompanhava todo o ritual da costura, feito às escondidas de minha irmã.
Ficou uma boneca muito linda. Mais linda que as da loja, mas me sentia triste por saber-me já uma quase-adulta, ajudando a minha mãe a preparar o presente. Eu sabia que deveria ficar feliz com os chocolates que iria ganhar.
Eu era uma mistura de sentimentos.
Queria ser ainda inocente e acreditar em Papai Noel... Mas ao mesmo tempo me sentia importante porque a mãe me confiava o segredo de natal.
Aquele Natal foi um marco pra mim. Eu já era grande. No ano seguinte eu iria pra escola e deixaria definitivamente meus sonhos de menininha para trás.
Tinha a passagem... Só de ida.
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