sábado, 23 de junho de 2007

Minhas trovas do não

Não se aproxima do fogo
quem tem vestes de papel
não pode cabular aulas
quem é filho do bedel.
Não rasga nunca dinheiro
quem não tem para gastar
não se despreza o traseiro
se o dianteiro vai faltar.
Não se planta flor em mangue
nem amor em desalmado
que a flor não segue adiante
e o amor morre calado.
Não se insulta trovador
com versos mal acabados
desistir não é louvor
vais ficar mal afamado.
Não se nega amizade
a quem vem te procurar
se acaso for falsidade
não será teu o azar.
Não se deve paquerar
vizinho do mesmo andar
se ele te incomodar
não tens como se safar.
Não se revela segredo
pra quem não sabe guardar
que por leviandade ou medo
um dia vai te entregar.
Não se deve propagar
defeito do namorado
tem sempre outro pior
e nessa, terás dançado.
Não acredito no fado
que casar é bom a beça
mulher boa de guisado
na cama lhe falta peça.
Não se chora de saudade
porque nunca há motivo
pois a tal da realidade
massacra o que foi bonito.
Não se põe para dormir
dois casais no mesmo quarto
se um errar a investida
o outro é que sai chifrado.

Não se compra à prestação
coisa que não vai durar
é triste jogar no lixo
o que inda falta pagar.

Não pode sair na chuva
quem não queira se molhar
mas se provar algum dia
garanto que vai gostar.
Não se faz trovas do não
quem ao sim é apegado
porque fere o coração
ver tudo seu, renegado.
Não se deve ir embora
antes de chegar ao fim
mas como esse fim demora
vou ficando por aqui...

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