quinta-feira, 12 de julho de 2007

eu, um arranjador de flores

Traz-me na forma que mais consagrada,
for concebida.
Um trasgo, um rasgo de tua guarida.
Por quê deixar que eu me chafurde assim,
longe do que a mim se faz afim,
Deus Meu?

Sou um arranjador...
Um arraigado e consumado bordador de flores!
Um sonhador...
Um navegante insone do amor.
Um querer que se plasmou,
e sem ter ressonância,
afogou-se na ânsia,
e levemente se quedou...

Agora,
dos meus olhos caídos, doridos,
restaram o chorar, o cansar...
Por recordar, ato sublime,
a pureza das visagens dos reinos encantados,
onde no cime
flor fiz-me.
Onde fizeram-se me amar...

Por quê agora,
justo no instante que aflora,
- mundo duro, impuro -
joga-me fora,
feito algo que apavora,
como fosse meu
o desfecho de uma praga mórbida,
que se esparge
anunciando um triste apogeu?

Vês?
As flores e suas cores,
vivas inda estão...

Enquanto a morte me consome,
eu as arranjo...
Enquanto a algesia entre os meus dedos,
escorre e some,
eu ainda preservo,
- e no meu canto/lamento conservo -
o que as flores e cores,
de forma milagrosa,
conseguem sustentar:
a beleza, o vivificar...

Eu sou um arranjador de flores...
Apenas isso.
Nada que se faça promíscuo,
apenas deixo-me esvair,
para que possam seguir,
as flores com suas cores,
a ornar os verdadeiros amores,
que se fazem cintilar...
que se fazem eternizar...

Sómente isso.
Não sou mensageiro de dores.
Eu, sou apenas um arranjador de flores.
Morto?
Não sei.
Eu somente vivo entre as cores,
talvez por isso,
muitos olhos densos e sem princípios,
decretaram minha sorte.
Ou apressaram minha morte...

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