quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Meus escondidos

Estou sozinha. E no silêncio desta tarde posso mexer nos meus guardados. Escondidos meus, esquecidos de muito tempo.
A gaveta, quieta por anos, mostra-me o passado cheirando a mofo, embora fossem de lavanda os meus sonhos embrulhados.
Por que fui mexer no que estava quieto?
Agora, vou ter de cuidar da lágrima que insiste em estar presente nas dobras destas cartas.
Envelopes já sem endereço, bilhete amassados, flores secas e quebradiças, fotografias desbotadas, botões, fitas, lápis sem ponta, uma chave perdida... tudo misturado nas minhas memórias em desordem.
Toco cada coisa tentando sentir a mesma emoção daqueles dias, mas tudo o que sinto é uma dor aguda no peito. Sensação de perda, de nunca mais, de adeus.
Bobagem a minha, pensar em reviver coisas esquecidas. Não adianta mexer no que já é morto.
Esta lágrima que escorre é a derradeira. E eu juro no silêncio que ora testemunha a minha dor: não vou alongar esse sentimento.
O fogo há de limpar-me o coração.
Não chorarei mais por folhas arrancadas dos meus dias.

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