quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O que seria?

O que seria da minha alegria,
Que nunca deixa a vida ser sombria,
Se eu não conhecesse a insana dor,
Que rasga a minha alma em mil pedaços,
E risca o coração com tantos traços,
Quando por entre os dedos, foge o amor?

O que seria desse meu sorriso,
Feliz por tê-lo, pois tanto preciso,
Se os olhos estranhassem a noção
Do pranto que houve a inundar o rosto,
Num misto de angústia e de desgosto,
Quase sempre a brotar da ingratidão?

O que seria desse amor que sinto,
Que me inebria tal qual o absinto,
Se o medo profanasse-me a coragem,
Não me deixasse lembrar outra data,
Onde a minh'alma seguia calada,
Na viela que a levava à voragem?

O que seria da felicidade,
Se nunca houvesse em minha realidade,
Momento tal qual esse, de tristeza,
Onde o coração remói a solidão,
E a alma sente, prostrada, a rejeição,
Sem resquício sequer de sutileza?

O que seria do sol, que hoje brilha,
Se no mundo não houvesse essa partilha,
De claridade e trevas, a saber:
- Entre a alvorada e a escuridão -
Onde ao luar, só resta a solução,
Dormir no colo do dia a nascer?

O que seria de tanta alquimia,
Que o mundo usa em mim, à revelia,
E me faz ver o que nunca acontece...
Tamanha ternura que unge meus dias,
Filosofando a Pedra e suas magias,
Mera ilusão de óptica e de prece?

O que seria de mim, sem tal falha,
Que dói tanto como corte a navalha
E que eu não me canso de cometer?
O que seria de mim, sem amar...
Sem jamais sofrer, por não ousar sonhar?
Confesso: - Melhor seria morrer!

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