quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CIDADE DE PAPELÃO

Estátuas, cheias de verdete, invadem
as esquinas de meus olhos e as rosas,
que morrem cerces, por entre jardins
descuidados, ardendo instantaneamente.

Abundam os arbustos e árvores mortas,
petrificadas pelo tempo, e, a poluição,
desce as escadas da cidade, na humidade,
corrompendo o papelão e a inanição diária.

Meu pássaro de papel, argonauta de meus
sonhos, ficou-se a meio do caminho, entre
pinheiros bêbados de azul, rios putrefactos,
onde descem impunes, águas de esgoto.

Sem sonho algum, que lhes alimente a face,
é aí, que vivem as pessoas, que subsistem,
a toda a ignominia, debaixo de velhas pontes,
a meio da sujidade, no alastrar das doenças.

Algumas pombas vão depenicando o chão,
e, há uma certa normalidade, nisto tudo,
menos as ratazanas, que roem os pés das
pessoas, desprevenidas, enquanto dormem.

E prédios crescem, ao lado, indiferentes ao
que se passa ao seu redor. Já lá vai o tempo
da alvenaria, pois tudo é de cimento armado,
ilustrado por imensas janelas, sem brio algum.

Virilhas esverdeadas, erupções cutâneas e
outras enfermidades, marcam o compasso
da cidade assimétrica, e, rostos amarelos,
morrem todas as noites, ao piar da coruja.

Regresso ao mar, minha origem, e, é então,
que me transmuto, qual cavalo ou galgo,
em ondas, onde abunda a liberdade, e, aí,
sou de novo a pureza das coisas, sua verdade.

Açoitado pelo vento, faço-me espuma e areia,
e, solto meus cabelos, que vagam ao sabor do
mar, misturando-se com as abundantes algas,
salpicando todos quantos se acercam de mim.

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