quinta-feira, 23 de outubro de 2008

FINJO...

Ah! Minha infância, quem diria
que virias me visitar?
Agora com meus cabelos grisalhos,
nas cores das ondas espumantes do mar...

Num domingo nublado,
com arco-íris cortando todo céu...
Faz-me parar as horas do relógio,
olhando no poente as nuvens
despencarem qual véu...

Faz-me menino novamente,
a provar das carambolas suculentas no pé!
Borrar minha boca nas amoras,
banhar-me nos rios e igarapés...

Ah! Minha infância, quem diria?
Ainda com esta minha timidez...
Beijar o rosto da primeira namorada,
em meu imaginário outra vez!

Usar um short de brim!
Com pés descalços no chão?
Sair pela noite e capins,
procurando pirilampos pela escuridão...

Pensei que nunca mais voltarias,
seria o próprio contra-senso!
Vivo à meia-idade neste dia e tu pertences
a outro tempo...

Ah! Minha infância,
que bom te reencontrar!
Brinco na enxurrada com a molecada,
pelas ruas do meu lugar...

Que me olhem atravessado e
até pensem que esteja caducando...
Tem jogo de botão no tabuleiro e um
garoto me convidando!

Esqueço do calendário atual,
dos compromissos que a realidade revela!
Abraço a minha infância, é normal...
Para quem tem saudade dela!

Só me faltam as pipas,
o carrinho de rolimã...
Onde andariam os meninos de ontem?
Perdidos num qualquer divã?

Presos num escritório?
Entre quatro paredes entristecidos?
Com medo de rever a infância,
a bem dos compromissos assumidos?

Visto ainda um boné aos olhos
de adultos inconformados!
Hoje, por nada dispenso a infância,
sou nela todo, passado!

Hoje, por nada sou gente grande...
Visto o peito de sonho e esperança!
Neste futuro, finjo que não existo...
Sou nele todo, criança!

Sem comentários: