sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O PESO DO AMOR

Certo dia a muito tempo passado, eu conheci um homem. Apesar da minha juventude eu fiz uma fraternal amizade com ele.

Os dias transcorriam sem que eu percebesse. Na verdade, quando se é jovem não se sente o tempo passar. Mas eu me dei conta de que o tempo passava, quando de uma visita ao meu amigo de idade avançada.

Eu tenho a impressão que o peso dos meus anos, disse-me ele, a cada dia que passa se acrescenta mais algumas gramas, e o fardo torna-se mais pesado. Eu sei que chegará o dia em que não mais suportarei esse peso, mas de uma coisa eu tenho certeza, quando este coração for pesado na balança do criador, o seu peso será tão leve quanto o peso do amor.

Eu fiquei admirado pela expressão filosófica daquele homem, porém não quis deixar transparecer o meu sentimento, mas não deixei de lhe perguntar: O senhor sabe qual é o peso do amor? Sim, eu sei, respondeu-me. E qual é? Indaguei-lhe. O peso do amor tem o mesmo peso da luz, e ainda que aqui existisse uma balança para pesá-lo, eu lhe digo, não existiria o contrapeso para definir sua pesagem, e ainda que a partícula indivisível do universo fosse colocada no prato da balança como contrapeso, a sua alça penderia para cima, por que a menor partícula existente no universo é mais pesada que o amor e o único peso que ainda se iguala ao amor é a luz. E como o senhor sabe disso, e de onde vem essa teoria? Dali, disse-me apontando para o universo. Foi ali que eu tive a minha penúltima iniciação. Penúltima? Interroguei-lhe, sim, respondeu-me, por que a última iniciação ao conhecimento maior da sublime ciência, só se faz com a passagem do umbral, ou desta vida de sombra passageira, para a luz que ilumina o amor.

Foi-me bem proveitosa aquela visita que eu fiz ao meu amigo. Despedi-me dando-lhe um beijo na face e sai. Alguns dias depois eu voltei àquela humilde residência, mas só encontrei um pequeno escrito onde se lia:

Meu querido jovem estou iniciando minha viagem para fazer minha última iniciação, dê uma santa morada a este templo que abrigou minha alma. Aguardar-lhe-ei lá também.

Fui até o quarto do meu amigo, onde seu corpo encontrava-se inerte sobre a cama, parecendo ter sido embalsamado por santas mãos, por que o único odor que dali exalava era um perfume de rosa.

Eu dei àquele corpo um féretro merecido, por que a um sábio da ciência, a maior recompensa é o peso do amor.

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