Quem nunca chorou na vida
Lágrimas de despedida
No cais da separação,
Não conhece a dor suprema
De quem escreve um poema
Com a tinta da emoção.
Quem na vida pavoneia
A sua barriga cheia
Depois dum lauto jantar,
Não sabe quem se consome
Para temperar a fome
Com o sal do seu olhar.
Quem anda na alta roda
E veste roupas da moda
Com desenhos de paris,
Não entende o arrepio
De quem morrendo de frio
Sente-se tão infeliz.
Quem vai ao templo eleito
Bater com a mão no peito
Pedir favores a Deus,
Nem lembra do desgraçado
Desse infeliz mutilado
Sem mãos para erguer aos Céus.
Quem esconde a sua idade
Com silicone e vaidade
Enchendo a massa mamária,
Quer lá saber das crianças
Que morrem sem esperanças,
De fome, frio e malária.
Quem muda a cor do olhar
Com lentes da cor do mar
Ou de outra coloração,
Quer lá saber do ceguinho
Que tropeça no caminha
Do mundo da escuridão.
Aquele doido estarola
Que a dar pontapés na bola
Ganha fortunas sem par,
Quer lá saber do vizinho
Preso às muletas de pinho
Pois nem pés tem para andar.
Quem só tem o coração
Pra manter viva a ilusão
De que pode comprar tudo,
O seu peito é um armário,
Não o Santo relicário,
Dum coração doce e puro.
E depois vêm os poetas
Escreverem suas tretas
Denunciando a hipocrisia.
Mas olhando lá no fundo,
São iguais a todo o mundo
Exceto na poesia.
Sem comentários:
Enviar um comentário