Na solidão do camarim, ela retira
A maquiagem...quando o rosto se desbota,
Ela percebe que o espelho onde se mira
Revela um rosto que ela vê...mas ninguém nota.
Ela se despe, troca a roupa da atriz
Pela mulher que a personagem escondeu,
Mas a verdade deixa tanta cicatriz,
Que ela nem sabe se aquele rosto é seu.
Ela decora tantos textos, seu papel
Nem sempre é de personagem principal;
Se erra a fala, a platéia é cruel,
Pois quer ouvir o texto mais original.
Ela atravessa a escuridão do auditório
E enquanto pisa a solidão do corredor,
Nota que a vida deixa em cada repertório
A sensação de ter vivido um novo amor.
Ela, então, ganhando as ruas da cidade,
Mirando as luzes coloridas de neon,
Sente na boca a sensual ansiedade
De retocar mais uma vez o seu batom
E se transforma em uma nova personagem
Com sua boca enfeitada de carmim,
Mas quando volta...já desfeita a maquiagem,
Ela retorna à solidão... do camarim.
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