Um dia de sol,
entre tantos nebulosos...
Suspirei feliz, sorri...
Após o café, tentei fazer um rol
das tarefas de meu dia...
Meus netinhos, chorosos,
chamaram minha atenção:
larguei caneta e papel, desisti...
queria vê-los em alegria!...
Minha casa em obras,
o pedreiro aproveitando as sobras
como aterro... Oh, que grande confusão!...
Driblando o carrinho de mão,
carrego caixas e vassouras,
vou cansando o coração...
Pareço mulheres mouras,
pois minha pele clara
tornou-se uma tez morena
sob a nuvem de pó,
embora pouca, avara...
Pode-se imaginar a cena?...
De hora em hora, tudo se enrosca, é nó:
apreçar ao telefone a prateleira,
não esquecer de ser também a cozinheira,
tomar um banho, almoçar...
Respirar fundo... e o céu olhar...
Tomei uma decisão:
parar tudo e me arrumar...
sair, ir ao cinema,
esquecer que preciso ser
a deusa suprema:
a que tudo tem que resolver...
Afinal, sou somente uma criatura!
Problemas?... Amanhã buscarei a solução...
Assim pensei, assim fiz:
risquei as preocupações com um pedaço de giz
e lá me fui ao Centro do Rio,
Glória, antiga Praça Paris...
Prossigo na viatura:
em Botafogo, sorrio...
salto, vou ao cine e vejo a fita...
Muito boa e me irrita
ver o cinema vazio...
É quando meu estômago grita!
Satisfaço-o, ao som de boa música ao vivo.
Volto ao lar.
O sangue quente e ativo
a correr-me nas veias...
Ponho a camisola e as meias
e cá estou, feliz, a poetar!...
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