segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

DEVOLVE, MAR

Devolve, mar,
os sonhos que eu te dei
em dias de ternura
quando, apalpando espumas,
mergulhei em ti,
saltando ondas para guardar
os meus doces segredos
nos teus eternos mistérios.

Devolve-me cada sorriso de esperança,
cada pedido que me respondeste
com tuas vazantes,
cada história que testemunhaste,
cada luar que refletiste...

Devolve-me os ardores
de tantos versos que a ti dediquei
nas minhas alucinações noturnas,
a minha euforia
pelo belo que representavas
e tantas lágrimas
que com teu sal se misturavam
e as devolvias a mim
na ânsia incontida das tuas marés.

Deixo contigo os teus mistérios
para que sintas teu próprio gosto.
Não mais quero entendê-los.
Afogaram-se. Afoguei-me...

Hoje cavalgo nas tuas areias
que não mais queimam meus pés
e colho aqui, em terra firme,
os frutos do que plantei
e não se perderam na tua grandeza.

Banho-me na lua e nos ventos,
liberta do teu fascínio.
Tornei-me olhos que procuram
e não deixam escapulir
cada chance de ser e viver,
em direção ao meu Shangri-la,
não tão escondido
que eu não possa vê-lo,
nem tão distante
que não possa senti-lo.

Deixarei pegadas.
Devolve-me, mar,
o que de mim roubaste,
para que eu possa sentir,
na bagagem que levo,
o pequeno peso
do que não vivi.

Sem comentários: