Devolve, mar,
os sonhos que eu te dei
em dias de ternura
quando, apalpando espumas,
mergulhei em ti,
saltando ondas para guardar
os meus doces segredos
nos teus eternos mistérios.
Devolve-me cada sorriso de esperança,
cada pedido que me respondeste
com tuas vazantes,
cada história que testemunhaste,
cada luar que refletiste...
Devolve-me os ardores
de tantos versos que a ti dediquei
nas minhas alucinações noturnas,
a minha euforia
pelo belo que representavas
e tantas lágrimas
que com teu sal se misturavam
e as devolvias a mim
na ânsia incontida das tuas marés.
Deixo contigo os teus mistérios
para que sintas teu próprio gosto.
Não mais quero entendê-los.
Afogaram-se. Afoguei-me...
Hoje cavalgo nas tuas areias
que não mais queimam meus pés
e colho aqui, em terra firme,
os frutos do que plantei
e não se perderam na tua grandeza.
Banho-me na lua e nos ventos,
liberta do teu fascínio.
Tornei-me olhos que procuram
e não deixam escapulir
cada chance de ser e viver,
em direção ao meu Shangri-la,
não tão escondido
que eu não possa vê-lo,
nem tão distante
que não possa senti-lo.
Deixarei pegadas.
Devolve-me, mar,
o que de mim roubaste,
para que eu possa sentir,
na bagagem que levo,
o pequeno peso
do que não vivi.
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