sábado, 26 de abril de 2008

De mulher para mulher

Por que está me olhando assim,
como se tivesse medo de mim?
Despreza-me porque sou descarada,
porque me exponho de forma depravada?

Não seja hipócrita! Eu sou uma prostituta!
Dessas que o mundo insiste em negar,
mas que estão nas ruas todos os dias, em todo lugar.
Não rompem barreiras, nem se fingem de freiras.

Não quer, por acaso, que eu me cubra, quer?
Porque se quiser, não vai dar para ser...
Eu me cobri inteira quando fui à sua casa.
Eu precisava tanto, estava pisando em brasa...

Com meu filho doente, a mãe descontente...
Atendi ao anúncio e fui ser faxineira.
Lembra-se quanto me pagou, depois da "choradeira"?
Foi o valor da gorjeta, pelo chapéu que você comprou!

Aí não deu, sabe?... Se fosse o valor do chapéu,
eu viveria um ano em algum hotel...
Por isso estou aqui, expondo meu produto...
Não olhe, se lhe incomoda, mas não estou de luto.

Não matei. Não roubei. Não preciso me esconder...
Nem ir para o motel discretamente,
fingindo ser o que não sou: gente decente.
O meu parceiro não é o melhor amigo do meu marido...

É só alguém que pagou pelo serviço,
e nunca manda eu ter cuidado com o que digo.
Tem certeza que pode me olhar assim?...
A minha consciência é uma torre de marfim!

E a sua...?

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