domingo, 8 de novembro de 2009

Conto especial de Halloween

O homem estava parado na praça, de pé, sob a escuridão da sombra de um conjunto de árvores. Ana se aproximou sem nem percebê-lo ali.

Quando a garota saíra de sua casa, o céu estava avermelhado com o pôr do sol. Ela trancou o portão e rumou em direção á seu encontro, usando um belo vestido branco decotado que lembrava as vestimentas das famosas atrizes de filmes antigos. Seus cachos ruivos estavam balançantes e definidos, brilhando como fogo á luz. O sapato que usava fazia um insistente barulho, que a agradava, pois se sentia no controle de si.

Ao ver o homem que a olhava, calado, Ana sorriu e o cumprimentou, com um aceno da cabeça.

- Olá! – disse.

- Oi – o homem retornou.

A jovem estava esbanjando alegria. Estava tão feliz que não se conteve em dizer:

- Estou aqui para um encontro! – as palavras saltaram involuntariamente de seus lábios avermelhados.

O estranho fez um som com a boca.

- E você... O que faz por aqui? – ela questionou.

- Estou esperando uma pessoa chegar para jantar.

- Ah! Eu e Rodrigo também vamos jantar! Para onde vocês vão? – Ana sorriu.

O homem deu um passo para fora da sombra das árvores, mas seu rosto continuava oculto pela escuridão.

- Qualquer lugar aqui por perto.

- Sua namorada é bonita? – a jovem perguntou.

- Na verdade não é minha namorada. Mas é tão bela quanto você – disse, com sua elegante voz grossa.

- Ah, obrigada.

- E seu namorado? Como ele é?

Ana gostou do fato do homem estar conversando com ela. A garota estava tão feliz com seu encontro que precisava contar sua alegria á alguém naquele momento. Seu sorriso era enorme, de orelha a orelha.

- Ele é tão bonito que você nem iria acreditar. Ele é alto, forte, moreno, sobrancelhas grossas, ai, uma loucura! – disse, gesticulando suas mãos.

- Sim. Como vocês se conheceram?

- Estudávamos na mesma escola. Mas nunca tínhamos nos visto pelos corredores até que um dia, a gente precisou fazer um trabalho junto para a feira cultural – contou. – Mesmo assim não tínhamos começado a namorar. Foi só depois, conversando pelo computador, que fiquei sabendo que ele morava perto de casa. Começamos a namorar quando nos encontramos por acaso na fila para o cinema. A conversa fluiu, acabei sentando do lado dele e... – Ana ficou com as bochechas vermelhas. – Ai. Só sei que tive que assistir novamente ao filme depois porque do meio para o final não vi mais nada.

- Que perfume gostoso que você está usando, senhorita – o estranho disse.

- Ah, obrigada. É o favorito do Rodrigo. Ai, acho que estou falando demais, não? Estou tão feliz com este encontro que não conssigo parar de repetir que vou ter um encontro com o Rodrigo! – confessou.

- Então porque não grita para que a cidade toda saiba? É muito bom desabafar!

- Eu tenho um encontro com o homem mais gato do mundo! – Ana berrou para o ar. – Mas e você? Como foi que conheceu sua bela amiga?

- Na verdade não sei tanto sobre ela. Sei que ela é muito bonita e acabou de perder o namorado, coitadinha.

- Nossa! Sério? Que judiação! Eu não saberia o que eu faria se o Rodrigo morresse sabe? – ela disse.

- Sei sim. Mas é o primeiro encontro de vocês? – o estranho homem de voz sedutora perguntou.

A jovem suspirou antes de responder:

- Não. Mas cada encontro tem a mesma emoção como se fosse o primeiro!

Ele voltou a fazer o estranho som com a boca.

Permaneceram em silêncio por algum tempo, até que Ana falou, com menos excitação em sua voz:

- Ele está meio atrasado.

- Não se preocupe, talvez algo grave tenha acontecido – a grossa voz soou pela noite.

- É, talvez.

Mais algum tempo na quietude e a jovem passou a reparar em como a praça estava vazia. Ela deduziu que estava assim desde que chegara, mas só havia visto isso naquela hora porque sua ansiedade pelo encontro havia passado um pouco.

- Ei – o homem disse, fazendo-a olhar para ele. – Acho que conheço se namorado.

- Conhece? – a jovem indagou.

- Sim. Ele não seria por acaso este aqui, seria? – ele perguntou, retirando de seu bolso uma foto e esticando seu braço para Ana pega-la.

A garota estranhou que a mão do homem a tenha alcançado, uma vez que as árvores onde ele se encontrava pareciam mais distantes que a distancia de um braço esticado.

Ana olhou para a figura, boquiaberta. Era a mesma foto que Rodrigo carregava em sua carteira. Ela retratava seu primeiro encontro, quando os dois tinham ido passear em um parque de diversões e registraram aquele momento em frente á roda gigante, que podia ser vista ao fundo.

- Sim! É este mesmo. Mas o que você faz com esta foto? – disse, amedrontada.

O estranho saiu da escuridão. Ele era muito bonito, mas seu rosto estava manchado com algo.

- Ele tem o sangue tão doce... Espero que o seu seja tão bom quanto o dele – o homem disse, aproximando-se de Ana.

Conforme ele chegava mais perto, a jovem encolhia-se no banco. Talvez fosse impressão dela, mas os dentes dele pareciam presas animais e as manchas em sua face, pareciam ser sangue.

Como se não pudesse controlar o próprio corpo, a garota amoleceu seus músculos e tombou a cabeça para trás, submetendo toda a região de seu pescoço ao homem, que a agarrou e aproximou-a a seu corpo.

A ultima coisa que Ana conseguiu pensar não foi em Rodrigo, mas lhe veio á mente a imagem de um corpo feminino nu todo ensangüentado, contorcendo-se em meio á uma multidão de ratos dentro de uma floresta escura

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