domingo, 27 de setembro de 2009

ANTE OS QUE PARTIRAM

É possível que nenhum sofrimento na terra seja comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração enregelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inevitável, na fisionomia daqueles que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

Digam aqueles que já apertaram contra o peito o corpo inerte de um ser amado, consumidos pela dor e pela angústia da separação.

Falem aqueles que varados de saudade, inclinaram-se, esmagados de solidão, à frente de um túmulo, perguntando em vão pela presença dos que partiram.

Todavia, quando semelhante provação te bater à porta, reprime o desespero e dilui a corrente de mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados “mortos” são apenas ausentes e as gotas de teu pranto amargo e revoltado lhes fustigam a alma.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessaram a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram.

Ouvem-lhes as lamúrias e as súplicas e sofrem cada vez que os afetos deste plano da vida se rendem à inconformação ou ao desânimo.

Lamentam-se pelos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.

Estimulam-te à prática do bem, compartilhando contigo de dores e de alegrias.

Rejubilam-se com tuas vitórias e consolam-te nas horas amargas para que não te percas no frio do desencanto.

Tranqüiliza, desse modo, aqueles que te antecederam no regresso à pátria espiritual, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, dividindo outra vez necessidades e problemas, porque terminarás tu também a própria viagem no mar das provas redentoras.

Pára e pensa, pois, nessas questões.

Não obstante a morte imponha amargura e dor, frustração e lágrimas naqueles que ficam, vale a pena permaneças vigilante, a fim de evitar excessos que te impeçam de pensar com clareza.

A morte não é o fim absoluto da querida convivência dos que se prezam, dos que se amam.

Cultiva, então, o bom senso.

Sofre e chora sem que o teu sofrimento perturbe os outros, sem que tuas lágrimas tragam desequilíbrio para tua intimidade.

Retira o bom aproveitamento do padecer, amadurecendo, superando-te, para que as tuas provações ou expiações humanas, de fato, façam-te avançar para Deus.

Chora teus mortos?

Então faze desse pranto um aceno de ternura e um bilhete de paz, onde tu digas aos amores desencarnados:

Permitiu Deus que te libertasses antes de mim, e eu disso queixo-me por egoísmo, porque preferiria verte ainda sujeito às penas e sofrimentos da vida.

Espero, pois, resignado, o momento de nos reunirmos de novo no mundo mais venturoso no qual me precedeste.

Até breve e que Deus te abençoe, ser querido!

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