quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cântico

Quisera ser assim: Livre!
E então te levaria, na palma da minha mão,
nos rumos da estrela guia,
a conhecer magias e paisagens dos campos do bem querer.
E o meu riso seria claro e límpido.
E não haveria limites nem horizontes que nos guardassem.
E te mostraria a rota de todas as estrelas
e conheceríamos o percurso de todos os mares.
E se encontrássemos o final do arco-íris,
não nos prenderia o ouro do pote,

nossos olhos, sim,
se renovariam em suas cores.

E eu te cobriria de sonhos.



Quisera ser assim: Decidido!
E eu te indicaria o caminho certo e não deixaria em ti dúvidas sobre o nosso destino.
E em cada encruzilhada minha voz soaria clara e definida:
Esta é a direção, por aqui encontraremos
uma clareira onde a grama é macia, as águas claras, a sombra amiga, faremos ali a nossa paz.
E eu te revelaria para onde segue o vento do outono, o que acontece com o sol da meia noite
e os mistérios que cercam o amanhecer.
E eu te cobriria de certezas.



Quisera ser assim: Seguro!
Teria então, os meios para acalmar os temores
e os receios que rondam tuas noites.
Te ensinaria a olhar de frente e para dentro de ti, e te faria descobrir o que há além do que nos cerca. E este conhecimento seria a armadura
a nos proteger dos medos que nos assaltam
quando as luzes todas parecem apagar-se
e não se distingue nem um raio de madrugada.
E meus braços seriam o forte onde
repousariam os teus cansaços.
E a minha voz seria o som a te despertar para a vida. E eu te cobriria de mansidão.

Mas não sou assim, sou apenas tímido
e fraco como todos os outros.
E é por isso que me encontras limitado pela insegurança, indeciso a tatear frases que me transfiram a ti.
É certo que às vezes te faço alegre com minha alegria, e o meu beijo tem a mornura suficiente para te aquecer. Mas não é tudo.
Há momentos em que me procuras amargurada e me mostro também carente e amargo. E não faço nada além de te oferecer
o meu ombro e chorar contigo.
Mas dizes ser o bastante.
E eu me divido.

Pois metade de mim anseia por voar, correr, gritar e a outra metade me conserva preso
aos valores que me impuseram desde cedo.
Valores, cujos pesos e medidas não entendo.
Dos quais, entretanto, não consigo me libertar.
Agrides-me e me causa dor.
Mas sei que tua agressão é fruto
das pressões que também sofres,
e sou o estuário que encontras à mão amiga.
E me agrada o fato,
pois sempre é uma maneira de te possuir.
Querias-me fortaleza e sou nada mais que abrigo, onde consegue, às vezes,
te aquecer quando necessário.
Sou o que sou:
Um homem solitário e limitado.
Perdoa-me!

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