segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Espelho

Chego ao espelho e um jovem
está me olhando de frente
Surpreso olho ao redor
Não há ninguém a meu lado
e o rosto insiste no espelho
curioso, do meu espanto?



Com cautela olho seus olhos
e ele me corresponde sereno
fitando-me também nos olhos
como um enamorado sempre
Quem és tu que desconheço
- me pergunto para o espelho



O rapaz olha-me agora
com um leve ar de surpresa
(penso: eu já vi esta face,
em que lugar em que tempo?)
Seus olhos são sem maldade
é quase olhar de criança



Fico então a analisar
os seus cabelos castanhos,
seus lábios quase vermelhos,
e seu olhar me olha inocente-
>mente. Ai, espelho! que é feito
do meu rosto que ocultaste?



Tiveste pena de mim
destes meus olhos cansados
- um dia quase perdidos -
desta boca já sem beijos?
E o jovem então me contempla
com a tristeza que eu tenho



A que difícil brinquedo
me submetes, espelho! Não
é que eu tenha receio
do jovem de que me emprestas
o rosto, fantasma não é
sei agora, e o reconheço



Ai, espelho, espelho! Espelho
dos meus segredos, de mil
faces que em ti deixei gravadas
por que estranhas ironias
me devolves a imagem do tempo
aquele em que eu fui amado?

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