segunda-feira, 8 de março de 2010

A FOLHA QUE CAIU

As águas passavam lenta e calmamente naquele límpido riacho. Aquela manhã era tão linda! As folhas das árvores combinavam com o verde das minhas esperanças. Meus ideais se faziam claros e resplandecentes como o sol. Naquele curto espaço de tempo em que eu estive deitado na relva, pareceu-me uma eternidade, quando via a transparência de minha vida tornar-se uma realidade.

Eu desejava ser livre como os passarinhos, sair e voar, ou quem sabe, caminhar numa estrada sem rumo. Era o anseio da liberdade juvenil, escalar outro pico imaginário. Assim foi aclarando o ideal de meus sonhos. Eu queria voar, eu queria ser livre como o elegante condor, eu queria conduzir a minha vida com liberdade e maestria. Pensava naqueles que faziam parte de mim, minha mãe, meus irmãos ainda crianças. Como deixa-los, como troca-los pela liberdade tão querida e almejada? Enquanto meus devaneios me conduziam a um lindo sonho, uma folha verde desprendeu-se de uma árvore. Olho-a no seu trajeto, conduzida pela leve brisa matinal.

Aquela pequena folha verde veio acomodar-se próximo a mim. Peguei-a com carinho, e com ternura acariciei-lhe o pequeno caule.

Meus olhos naquele instante pareciam brilhar.

Ali naquela folha que caiu estava a resposta para minhas dúvidas, naquela pequenina folha estava a solução para minha liberdade e meus anseios desconfortantes.

Uma límpida voz parecia eclodir na minha alma,

a me dizer: Nem mesmo as folhas libertam-se das árvores sem que Eu consinta.

Naquele instante meus pensamentos claros, elevaram-se aos céus como fosse uma humilde prece. Senhor! Fazei de mim um instrumento do teu amor, que eu seja como essa folha que se chegou a mim, para fazer a religião de união do meu coração a Ti. Que eu tenha a sabedoria de unir o amor ao coração; Que eu possa fazer a harmonia reinar nos ambientes discordantes e por onde eu passar possa deixar um pouco do Teu amor. Que eu siga o exemplo do Teu filho redentor; Que eu seja humilde como o cordeiro criança e que eu seja um pouco de Ti no amor, na paz e na esperança. Onde eu estiver, onde eu for que Tu me sigas de longe, protegendo-me, como se eu fosse a mais delicada flor. Guia meus passos ao longo de minha vida, pois eu sou nada mais que uma folha de tua bendita árvore, a desprender-se para outro estágio da vida.

Guardei aquela folha com carinho e a depositei no meio das folhas de um livro.

Alguns dias depois eu estava me despedindo de minha mãe e de meus irmãos, para seguir o destino que me fora traçado por Deus.

Como aquela folha, quando eu desprender-me dessa bendita árvore da vida, que eu possa ser levado pela brisa do amor, de regresso à casa do meu Senhor.

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