domingo, 21 de março de 2010

A VISÃO DA JUSTIÇA

O que é a justiça dos homens, se não a lei por ele mesmo criada, cuja lei o detentor do poder que a faz cumprir, é também um ser humano e da própria lei também sujeito, com o dever de acatá-la e respeitá-la, sob as penas da própria lei. Assisti na televisão, assim como milhares de telespectadores também assistiram, uma sena inusitada pela grosseria da atitude da justiça, quando ordenou a retirada dos braços da mãe, uma criança de um ano e alguns meses de idade, porque essa mãe pedia donativos nas ruas centrais de uma cidade.
A sena grotesca e um tanto forte para aqueles que assistiam o noticiário, deixou, certamente, milhares de telespectadores indignados, quando assistiram verdadeiros golpes de jiujutsu sendo aplicado naquela mãe, para que ela soltasse sua filha e essa fosse levada para uma casa de custódia. Segundo o que a reportagem apurou, após o confinamento da criança, esta seria colocada em uma lista de adoção, se parentes não se apresentassem com provas convincentes de habilitação financeira para cuidar da criança.
Lei é lei e todos nós sabemos e essa deve ser cumprida, quando aplicada, mas, na própria lei existe a jurisprudência, aonde, com brandura e amor também se contorna o fato, sendo também, por isso, um ato de justiça. A sociologia nos ensina que, de muitos casos não se aplica o extremo, não se inicia do último para o primeiro, nem de cima para baixo, mas, do início para o fim, de baixo para cima. O que se viu naquela cena foi uma amputação de um órgão vivo, ou de uma criança de colo sendo separada de sua mãe e vice versa, apenas em cumprimento da lei, menos da visão social do amor, apesar dos apelos sentidos daquela mãe e de sua filha também.

A mãe, segundo informações, é cigana, e como se não bastasse a expatriação que sofre esse povo, paralelo a exclusão da sociedade, deveriam entender, apesar de tudo, as autoridades, dando-lhe ao menos a compreensão e o direito de ser humano.

Conhecemos sociedades criadas por lei que amparam a mãe solteira, que protegem os animais, a flora e a fauna, que protege os índios e suas terras, mas, ainda não se soube que foi criada alguma lei que protegesse ou amparasse os ciganos. Cigano não estuda em escola pública, não está habilitado para se inscrever em um concurso público, não frequenta nenhuma igreja cristã, não concorre a cargos eletivos, simplesmente porque não tem pátria, não tem documento que o reconheça como cidadão. E além de tudo, não é eleitor. Será por falta de seu voto que nenhum político apresentou algum dispositivo nesse sentido? Com certeza, sim!

Que espécie de povo é esse, que apesar de todos os qualificativos, tem um coração? Tem sentimentos maternos, paternos e filiais, ou não deixaria transparecer um total desespero diante das câmeras de uma televisão, sem se importar se estavam lhe quebrando um braço, uma mão ou uma perna, o que lhe importava mesmo era defender o seu direito de mãe. Diante desse episódio me vem à indagação: Porque, ao invés de denunciar a atitude daquela mãe cigana, que esmolava donativos para o sustento de sua filha, não procurou esse, ou essa infeliz denunciante, ajudar, socorrer e amparar aquela vítima da falta de amor de uma sociedade moderna?
Fácil é denunciar o desconforto de alguém que esmola alimentos para saciar a fome, difícil é ter amor ao próximo apesar dos mandamentos religiosos e cristãos. O meu amor e a minha admiração a você povo cigano, porque você não rouba o pobre e nem esconde dinheiro na meia, mas devolve ao necessitado o que dele lhe furtou.

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