domingo, 29 de junho de 2008

Reconto das noites

Hoje beijei seu rosto,
no espelho sua imagem sobrepõe a minha,
meus olhos duvidam, minha vontade não,
meus lábios encostam-se aos seus, está frio,
me recordo do calor, do gosto,
não senti seu desejo e sua língua abusada.


Ainda tenho o retrato de nossas noites,
as declarações enquanto fazíamos amor,
os pares de olhos brilhantes e tensos,
pedaços de mim misturaram-se em partes de você,
éramos muitos amantes em dois e ficamos um,
nada foi confessado, nenhuma jura, tudo foi natural,
apenas os pedidos entre paredes mal pintadas,
o silêncio era quebrado por urros e gemidos,
o barulho do prazer ecoava por entre dentes cerrados,
enquanto corpos desajeitados se enroscavam deliciosamente.


O suor que escorre pelas dobras
mistura-se a líquidos e cheiros,
ainda trêmulo sinto a ansiedade indo devagar,
meus membros relaxam, todos,
suas unhas não riscam mais minhas costas,
as roupas ainda espalhadas e amassadas,
permaneço imóvel, adormecido e entorpecido,
com respiração ainda ofegante um outro beijo,
agora saciados, agradecidos do amor trocado,
minhas mãos ainda passeiam pelo seu colo,
toco levemente meus dedos sobre seus lábios,
sinto um mordiscar de carinho, um gesto, um olhar,
em silêncio braços cruzam os corpos e adormecemos.

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