quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O ACTO DE RECORDAR

Recordar é exercício inútil, é fazer do passado mais do que o presente tem de útil. Mas recordar também é viver desde que não se seja saudosista e vá na vida a olhar para trás. Recordar é necessário para o não esquecimento de nossas vidas, e para abrir ou fechar portas, conforme nos for mais conveniente.

Fazer vir à memória tempos passados é viver em sobressalto e deixar de viver o presente. Recordar tanto tem de alegria como de infelicidade depende daquilo que estejamos a lembrar-nos. Os velhos recordam o passado como forma de viver e de conviver com o presente, já as crianças recordam do presente o que o futuro lhes pode trazer.

Há quem se isole e viva de recordações, essas pessoas não vivem, sobrevivem em sofrimento e angústia prolongada. A vida é para se viver no agora e já, ter lembranças é saudável mas acordar para a vida com o passado em mente normalmente é doentio e enfraquece as pessoas.

Recordar deve ser um ócio que se compartilha com os amigos já que estar sozinho com as recordações pode ser insalubre e desgastante para a pessoa em causa. Recordar os nossos tempos de meninice, as namoradas, os amigos, o que fizemos de bom e de menos bom, é essencial para o nosso presente, pois faz-nos questionar e tirar uma boa gargalhada.

Recordar pode ser lembrar tempos de conquista em que alcançamos louros à nossa custa e com o nosso esforço. No entanto recordar também pode ser pernicioso, quando se faz da lembrança o nosso modo de viver e de lidar por conseguinte com os nossos amigos e vizinhos. Deve-se recordar sem ficar parado no tempo, pois as recordações podem ser falseadas à custa de nossas ilusões sofridas e marcadamente erróneas, por se desejar o que já não se possui.

Fazer das recordações nossos senhores e amos é fazer do presente um engano dos sentidos e de nossos pensamentos. É uma esperança irrealizável e uma quimera à moda dos alquimistas, que tentam transformar pedras em ouro. Devemos pôr um dessas pedras no nosso passado mas não nos devemos esquecer de todo o que vivemos outrora, repito sem saudosismos. Recordar é a fidelidade de usos os costumes, que não são mais admitidos.

É salutar uma boa lembrança mas não devemos passar daí, pois podemos ser levados ao engano. Recordar tanto tem de bom como de mau depende de como fazemos disso o nosso dia-a-dia. É favorável e proveitoso sentarmo-nos à mesa com os nossos amigos e lembrar bons tempos do passado, sem nos sentirmos oprimidos e com aquela dor no peito, que nos sufoca. Recordar é uma faca de dois gumes e pode ser perigoso para a nossa saúde mental e física. Mas também é bom lembrarmo-nos de bons tempos passados. Há que saber ser equilibrado.

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