terça-feira, 8 de maio de 2007

Refrão

Dôo às letras, as primeiras horas de qualquer sentir,
sei eu do ponteiro, eu sei do segundo da ressurreição;
há vidas nos meus olhos e na ingênua secreção porvir,
há vaga-lumes levando os mortos e beija-flor no chão.


Vôo em rima sofrida, quedo compondo a melancolia,
querendo ou não, rio à boca do espelho que estilhaça
o falsídico regendo os espinhos destas tribos; carestia
embalsamando esta alienista, tingindo minha vidraça.


Por vezes, descasco o verniz e apago o céu onde rutilo,
alando a deidade, paisagista que sou, sangro no seixal,
distorcendo as sinistras morrarias da areia que mutilo
e, se pedras me tiram, dou um não a tal corte marcial.


Intempéries expiando os breus, este meu eu dicionário
velando um mundo; profiro o que o submundo me deu
e no segundo único, morro no refrão do meu obituário.
Destôo assim, escrevendo o que alguém nunca escreveu.

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