domingo, 6 de maio de 2007

Lendo a Mão de Chronos na Face de uma Vovozinha...

Dissimulada, disfarçadamente
Observo a face de uma vovozinha...
Contemplo-a assim como quem não vê
Ou não quer ver o espelho à sua frente
Assim como para não constrangê-la
Nem trair-se à comiseração...

Misturando timidez e miopia
No silêncio respeitoso das idades
No respeito que aprendi pelos mais velhos
Perscruto-lhe a face maltratada
Cinzelada na colheita da Porfia...

Tantas rugas, tantos sulcos, tantas marcas
Tantos Dores a morderem-lhe a pele
Tantos risos que agora silenciam...

Dissimulada, veladamente
Concateno com Chronos um diálogo
E lhe pergunto se fez na face estragos
Ou... se da face se olvidou a Panacéia...

Mas Chronos não responde... me ignora
Talvez ache ingenuidade esta loucura
De querer desvelar a Eterna-Andança
E saber por que em face tão antiga
Se acendem vivos olhos de criança!

Leio a mão de Chronos na face envelhecida
E a própria face apalpo... indagação doída:
Não à idade da carne a transmutar-me o corpo
Mas à idade d’Alma nostálgica e outonal...
Eis que a face d’Alma é assim também antiga:
Vincada quão sofrida... marcada quão vivida...
Corcunda... silente... sozinha... sazonal

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