terça-feira, 20 de abril de 2010

O MEU MAR SERENOU...

O meu mar serenou na sensação
de perda, de vazio e de abandono.
A placidez me chega em pleno outono,
nos ocasos da última estação.
Sem avisos, sem mais explicação,
o meu mar serenou das investidas
de mares mais, das vagas despedidas,
preliminar, lenta e sutilmente.
O meu mar transformou-se , de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

Serenou o meu mar... Idas e vindas
não mais ondeiam com total frequência.
Há recúo das ondas, consequência
das correntezas de esperanças findas.
Espumas branquicentas, desavindas,
acenando saudades repetidas,
falésias ressecadas, esquecidas
dos vagalhões mortais de antigamente...
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

O meu mar serenou. Que faço agora
das praias envoltórias de desejos?
Onde as ondas, levantes de meus beijos
além das barras, pelo mar afora?
O meu mar serenou e me ignora...
Em seus murmúrios já não são ouvidas
as vozes d'além-mar, vozes vividas
nos instantes de paz do amor ausente.
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

Serenou o meu mar... Já não soluça
os queixumes da eterna viuvez.
Calou cantigas bantas, de uma vez,
sobre os penedos já não se debruça,
das rochas desertou a escaramuça,
amainou, do aliseu, vindas e idas,
desgostou das encostas carcomidas,
acostando na praia, descontente.
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

O meu mar serenou... Fera domada
por pelágicas deusas do desdém.
O meu mar serenou... Já não me vem
volvendo vozes da mulher amada!
Serenou o meu mar na madrugada,
calando, das esperas, sobrevidas.
O meu mar serenou nas descaídas
de tudo o que restou do amor da gente...
O meu mar transformou-se, de repente,
num lago azul de lágrimas sentidas!

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