sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"Prece do Pão"

Senhor!
Entre aqueles que te pedem proteção, estou eu também, servo humilde a quem
mandaste extinguir o flagelo da fome. Partilhando o movimento daqueles que
te servem, fiz hoje igualmente o meu giro. Vi-me freqüentemente detido, em lares
faustosos, cooperando nas alegrias da mesa farta, mas vi pobres mulheres que
me estendiam, debalde, as mãos!...
Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como se estivessem fitando um
tesouro perdido. Encontrei homens tristes, transpirando amor, que me contemplavam,
agoniados, rogando, em silêncio, para que lhes socorresse os filhinhos largados ao
extremo infortúnio...
Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio, mas de mim, para que pudessem
atender ao estômago torturado!...
Vi a penúria cansada de pranto e reparei, em muitos corações desvalidos, mudo
desespero por minha causa. Entretanto, Senhor, quase sempre estou encarcerado por aquelas mesmas criaturas que te dizem honrar. Falam em teu nome, confortadas e distraídas na moldura do supérfluo, esquecendo que caminhaste, no mundo, sem reter uma pedra em que repousar a cabeça.
Elogiam-te a bondade e exaltam-te a glória, sem perceberem, junto delas, seus próprios
irmãos fatigados e desnutridos. E, muitas vezes, depois de formosas
dissertações em torno de teus ensinos, aprisionam-me em gavetas e armários,
quando não me trancam sob a tela colorida de vitrinas custosas ou no recinto
escuro dos armazéns. Ensina-lhes, Senhor, nas lições da caridade, a dividir-me por amor, para que eu não seja motivo à delinqüência.
E, se possível, multiplica-me, por misericórdia, outra vez, a fim de que eu possa aliviar todos os famintos da Terra, porque, um dia, Senhor, quando ensinavas o homem
a orar, incluíste-me entre as necessidades mais justas da vida,
suplicando também a Deus:

"O pão nosso de cada dia dai-nos hoje".

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