terça-feira, 20 de novembro de 2007

EROS E PSIQUÉ: O CONTO DE FADAS DA MITOLOGIA

Eros, do grego ErwV (Éros), significa, segundo Junito de Souza Brandão,desejo incoercível (irreprimível) dos sentidos, e parece derivar do verboéresthai, que por sua vez quer dizer estar inflamado de amor. Sua genealogia
é uma das mais ricas e complexas, talvez pela própria dificuldade queencontramos quando tentamos definir e expressar esse sentimento elevado queé o amor. Hesíodo, em sua “Teogonia”, descreve Eros como um deus primordial,tendo nascido do Caos, juntamente com Géia e Tártaro.
Já o romano Cupido (que parece derivar do verbo latino cupere, cujosignificado é desejar ardentemente, ter desejos instintivos ou sensuais,cobiçar), ao que tudo indica, absorveu o mito do grego Eros.
Eros/Cupido, que na maioria das vezes aparece como filho de Afrodite/Vênus,constituía-se num instrumento de vingança e diversão da mesma. Certa vez,porém, o feitiço virou contra a feiticeira, como nos é narrado no belo contode fadas da Mitologia Grega, intitulado “Eros e Psiqué”, que chegou até nósatravés do romance “Metamorfoses”, do autor latino Lúcio Apuleio.
Havia uma jovem chamada Psiqué (do grego yuch, que significa sopro,princípio vital), filha mais nova do rei de uma determinada cidade da
Grécia, provavelmente da Grécia asiática (Ásia Menor), cuja beleza era algoindescritível. Com o passar do tempo, a linda princesa começou a sercultuada como a própria encarnação de Afrodite, fazendo com que seus templos
fossem esvaziando gradativamente, fato que irritou profundamente a deusa.
Cheia de ódio e despeito, a filha de Urano resolveu vingar-se da pobremortal. Chamando seu filho Eros, e beijando-o com os lábios entreabertos,induziu-o a acertar Psiqué com uma de suas famosas flechas, tornando-aperdidamente apaixonada pelo ser mais horrendo e desprezível que existissena face da terra.
Preocupado com a adoração que as pessoas tinham por sua caçula, o reiconsultou o Oráculo de Apolo, em Mileto, recebendo a terrível sentença: amenina, usando os tradicionais trajes fúnebres, deveria ser conduzida a um
rochedo onde se uniria a um monstro.
Tudo seguia exatamente como Afrodite havia planejado, até que Eros, acaminho de sua repugnante missão, acabou por ferir-se com a própria seta,contaminando-se com o vírus da paixão. Esse era o destino traçado pelas
Moiras, cujos desígnios não podem ser alterados nem mesmo por Zeus, o pai detodos os deuses e de todos os homens.
O deus do amor então mandou o vento Zéfiro conduzir a princesa, que haviaadormecido, até o seu palácio, situado de acordo com uma variante, numdeslumbrante vale. Ao acordar, Psiqué ficou extasiada diante de tanta beleza
e suntuosidade e logo descobriu que seus desejos eram imediatamentesatisfeitos. Tudo o que queria ou pensasse surgia à sua frente, trazido pormãos invisíveis.
À noite, Eros apareceu e, unindo-se à linda princesa, tornou-a sua mulher.
Antes do nascer do Sol, levantou-se e desapareceu nos céus, depois defazê-la prometer que jamais procuraria ver o seu rosto. Essa cena, contudo,foi se repetindo todos os dias e Psiqué acabou por se acostumar com a nova
rotina.
As notícias do seu desaparecimento, porém, acabaram por ser difundidas e,assim como sua família, Psiqué sentia saudades. Um belo dia pediu ao seu
misterioso marido para ver as irmãs. O deus, do alto da sua onisciência,advertiu-a dos perigos, porém, apaixonado, não resistiu às súplicas, feitas
entre beijos e carícias.
Conduzidas por Zéfiro, as irmãs, ao chegarem à esplêndida morada da caçula,corroeram-se de inveja. Infelizes no casamento, procuraram destruir a felicidade da ingênua menina. Ao descobrirem que Psiqué não sabia quem era
na realidade o marido, insinuaram que o mesmo deveria ser uma terrível serpente, o tal monstro do rochedo, que mais cedo ou mais tarde, acabaria por devorá-la. Aconselhada a desmascarar a fera, a jovem, completamente confusa, resolveu seguir as recomendações que lhe foram feitas.
À noite, depois de entregar-se ao esposo, que em seguida adormeceu, nãoperdeu tempo. De posse de um punhal e de um lampião, aproximou-se sorrateiramente. Quando iluminou seu rosto, não pode conter o susto, pois
diante de si, encontrava-se a mais bela visão que jamais havia contemplado.
Ao olhar para o lado, viu a aljava e as setas, e logo compreendeu quem era o seu misterioso marido. Emocionada, acabou ferindo-se em uma de suas flechas,
o que fez com que uma gota de óleo caísse no ombro do deus, acordando-o imediatamente. Decepcionado e magoado pela quebra da promessa, Eros saiu
voando e sumiu entre as nuvens do céu. Como que por encanto tudo à sua voltadesapareceu e a jovem viu-se novamente no rochedo, agora completamente
apaixonada e grávida, verificando com pesar, o fato de que era feliz e não o sabia.
Desesperada, atirou-se nas águas de um rio, mas o mesmo devolveu-a à terra.
Consolada e aconselhada por Pã, Psiqué, decidindo recuperar o amado, saiu procurando-o de cidade em cidade.
Os acontecimentos então chegaram aos ouvidos de Afrodite, que completamente louca de ódio, foi ter com o filho (que sofria com a dor produzida pela
queimadura), repreendendo-o com palavras severas e manipulativas, dignas de uma Grande Mãe devoradora.
Depois de pedir ajuda a Deméter e a Hera sem nada conseguir, Psiqué resolveu entregar-se à sogra, como última instância. A cruel deusa do amor, vendo-a
então desamparada em suas mãos, infligiu à pobre menina uma série de castigos e torturas. Não satisfeita, impôs à bela nora quatro missões impossíveis.
A primeira consistia em separar por espécie, em uma única noite, muitos grãos, misturados em um monte enorme. Diante de tal tarefa, a jovem
sentou-se e pôs-se a chorar. Formigas, que então passavam por ali,consternadas com a cena diante de si, resolveram ajudá-la. No dia seguinte,para desespero de Afrodite, o serviço lhe foi entregue.
Mais difícil era, no entanto, a segunda missão. Psiqué deveria trazer alguns flocos de lã pertencentes a carneiros violentos e carnívoros, que viviam próximos dali, e cujas dentadas impregnavam a vítima com um poderoso e letal
veneno. A bela menina, completamente desanimada, já tinha resolvido atirar-se no regato que cortava a região dos terríveis ovinos, quando ouviu vozes. Eram os caniços das margens, dizendo que ela deveria retornar à
tarde, depois que os animais houvessem mitigado a sede. Os flocos de lã,então, estariam lá, presos na vegetação. Fazendo o que lhe foi indicado,
Psiqué retornou com seu precioso troféu, deixando a deusa do amor boquiaberta.
A terceira tarefa era a mais perigosa até então: encher um recipiente decristal com as águas escuras da fonte que alimentava os rios infernais Cócito e Estige, fonte esta guardada por dois terríveis dragões. Mais uma
vez, a menina, diante da impossibilidade do cumprimento da missão, desabou em lágrimas, fato que acabou por comover até o austero Zeus. O rei olímpico
então enviou a sua águia que, tomando a jarra no bico, deu uma rasante e a encheu com o líquido.
Afrodite, incrédula diante do sucesso da jovem, encaminhou-a para a sua derradeira e fatal tarefa. Dando uma caixinha à amante de Eros, a deusa disse que ela deveria descer ao Hades e pedir à Perséfone um pouco do creme
da beleza imortal e em seguida retornar. Aí Psiqué compreendeu que finalmente chegara o seu fim. Resignada, subiu em uma torre com o objetivo
de atirar-se do seu topo, chegando mais rápido ao seu destino. A torre então, para surpresa da jovem, indicou-lhe a melhor forma de cumprir a tarefa. Ela deveria se dirigir ao cabo Tênaro, no Peloponeso, um dos caminhos que levam ao reino de Plutão, com dois óbolos na boca e um pão de mel em cada mão. Os óbolos eram a paga das viagens de ida e volta na barca de Caronte, e os pães de mel para entreter Cérbero, o guardião do Hades,
sendo um para entrar e o outro para sair.
Uma vez nos infernos, Psiqué evitaria aceitar o banquete oferecido pelo rainha das trevas, contentando-se apenas com um pedaço de pão preto. De posse da caixinha, não deveria abri-la em hipótese alguma.
No caminho de volta, a curiosidade, tomou conta da esposa de Eros. O fato de estar trazendo nas mãos um creme que torna as deusas eternamente belas, sem
no entanto poder usá-lo, mexia com a sua cabeça. Não agüentando a tentação, abriu a caixa. No mesmo instante foi envolvida por um sono esmagador e
fatal, caindo desfalecida. Eros, que já estava recuperado e morto de saudades, foi, com a permissão do senhor do Olimpo, ao encontro da amada, salvando-a e conduzindo-a à mansão dos deuses. Lá Psiqué tornou-se imortal,
consumindo o néctar e a ambrosia e a união dos dois enamorados foi abençoada por todos os presentes, inclusive por Afrodite, que convencida por Zeus,
resolveu esquecer tudo. Tempos depois nasceu uma linda menina que se chamou
Volúpia (que significa prazer e bem-aventurança). E assim Eros e Psiqué viveram felizes para sempre.
A bela história narra, de forma alegórica, um antigo e importante rito de passagem (cuja origem está, sem sombras de dúvidas, nos primórdios do
matriarcado) que tinha por finalidade preparar a jovem para atingir a verdadeira essência do feminino, ou melhor, a sua própria individuação. O ponto culminante, é sem sombra de dúvidas, a última tarefa, que constitui-se
numa morte simbólica, onde a velha personalidade infantil deve dar lugar à nova, agora adulta. A união definitiva de Psiqué com Eros traduz a coniunctio opositorum, ou seja, o encontro com o animus, indicando que houve
uma verdadeira integração a nível interior.
Quanto ao amor, ah! o amor... Infelizmente, está muito longe de ser vivenciado em todo o seu esplendor, pois assim como os deuses, nós ainda nãoc onseguimos administrar de forma satisfatória e plena esse nobre sentimento.
Eros e Psiqué, na realidade, constitui-se num conto de fadas dentro do mito,pois o mito é a própria expressão da experiência humana ao longo do tempo e
do espaço.

O Arquétipo da Mulher, mitos e mistérios.
Vera Lúcia Arruda
Psicóloga Clínica
O pai e a mãe sempre foram figuras representantes das energias masculina e feminina, e a união entre eles gera o maior milagre da criação o filho.
Ao pai foi dada qualidade de força, autoridade, liberdade, ação, progresso,ordem, racionalidade, etc.
A mãe foi adjetivada .como amorosa, submissa, acolhedora, nutridora, bela,irracional, etc.
Esses papéis permanecem até hoje e a maioria das pessoas identifica o pai com a lei que deve ser obedecida e a mãe com a natureza acolhedora para manter a lei do pai através do filho. E é assim que se constrói cultura e
civilização.
As primeiras imagens dos pais foram projetadas no sol e na lua. O sol representava o Grande Pai e a lua a Grande Mãe. Enquanto o Sol iluminava e dava a vida a tudo na terra, a lua refrescava a noite e confundia os objetos
com seus raios prateados. A noite tornava tudo mais belo, mais misterioso,mais relaxante. A visão lunar não era tão confiável quanto a luz do sol.
E assim mitos e lendas foram se criando ao redor do pai e da mãe, do homem e da mulher. E durante vários séculos, milênios, a Grande Mãe foi descrita com qualidades ambíguas e contraditórias, ora como a mãe boa e nutridora, ora como a mãe terrível e destruidora.
A mulher foi dividida em varias deusas. Na deusa Vênus ou Afrodite, deusa da beleza, ela era vista como a prostituta sagrada que embriagava e seduzia os
homens, e depois os abandonava à própria sorte. Muitos homens a condenaram à morte.
Na deusa hera, a protetora dos casamentos legítimos, ela se transformava na esposa exemplar, a rainha do casamento sagrado, e a família se torna o
melhor dos reinos, graças á mulher.
Na Virgem Maria ela se torna mãe de um Deus e alcança o respeito dos homens.
E depois, como Sofia, a deusa da sabedoria, ela é a guardiã do segredo e da salvação do homem, ela devolve a ele a sua alma, e ele se torna um ser completo, um ser de corpo e alma.
Hoje, a mulher tenta resgatar essas deusas que, na realidade, são partes de toda mulher, porém nem sempre ativadas. A namorada, a esposa, a mãe, a companheira amiga são etapas da vida de toda mulher no relacionamento dela com o homem.
Ao se unir ao homem ela realiza sua missão de mãe gerando o filho, mostrando ao mundo a doce visão materna.
No plano espiritual ela também pode levar a um grande mistério. Ela participa da criação da alma do homem, através do amor, sentimento abundante
em toda mulher, quando ouvida e respeitada, mas, principalmente, em toda mãe.

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