segunda-feira, 25 de maio de 2009

O cavalo real

Era uma vez um rei.
Era uma vez um cavalo.
O rei era um rei que andava a cavalo.
O cavalo era o cavalo do rei.
Não lhe chamavam cavalo do rei, mas cavalo real, porque andava sempre com o rei às costas.
Era muito vaidoso o cavalo real.
Quando se via, nos desfiles, à frente da restante cavalaria dos lanceiros, dos arqueiros, dos alabardeiros, julgava-se não só o rei de todos os cavalos, que o seguiam medindo o trote pelo trote dele, como o comandante em chefe de toda aquela tropa.
Que presunção!
O rei a cavalo passava revista à guarda real e a banda tocava o hino e os soldados apresentavam armas. Nessa altura, o cavalo levantava o pescoço, muito importante, com o rei às cavalitas. Lá na sua vaidade, julgava que era a ele e só a ele que os soldados, os capitães, os majores, os coronéis, os generais, os músicos e os porta-bandeiras prestavam homenagem.
Já viram tolice assim?
No pátio do palácio, diante da corte reunida, dos condes e das condessas, dos marqueses e das marquesas, dos duques e das duquesas, dos embaixadores, dos ministros e dos conselheiros, o rei passeava-se em cima do cavalo. Também nessas alturas, o tonto do cavalo supunha que todos aqueles salamaleques, todas aquelas vénias, lhe eram destinadas, a ele e só a ele, cavalo real.
Já imaginaram cavalo mais burro?
Mas, um dia, numa caçada, o cavalo real tropeçou num tronco e deixou cair o rei, que se estatelou no chão, com a coroa à banda.
Não lhe perdoou o rei o trambolhão. Deixar cair o rei é cair em desgraça. Foi o que aconteceu.
Expulso das cavalariças reais, o cavalo percebeu finalmente que não lhe tinham respeito nenhum.
Acabaram-se as paradas, as vénias, os desfiles. É agora um cavalo de carroça.
Nem tudo se perdeu, afinal. Depois do que se passou, o cavalo ganhou juízo.

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