quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

UM HOMEM APENAS

Deitado, na sua própria imundice,
olhos perdidos, a tudo e a todos, num
comportamento totalmente surreal,
enlouquecido em vida, pela indiferença
e pelo ostracismo, votado pelos outros,
resolveu escolher a densa rua, como
última provocação, a quem, por ele,
se veja obrigado a passar, desviando, o
até então, enérgico passo.


Seu cabelo desgrenhado e sem ver água,
faz já muito tempo, deixa um cheiro
nauseabundo, por onde quer que vá, e, as
roupas, são pedaços de pano, que, um dia,
também tiveram sua cor e corte, bem
desenhado.


Enfrenta o frio, como ninguém, pondo jornais,
dentro da vestimenta. E, se a pouca sorte,
lhe sorrir, traz, a cobri-lo, uma velha manta de
retalhos, aquecendo-lhe a figura esquálida.


Pela manhã, depois de um resto de comida
(sobras da noite passada), procura com
entusiasmo, arrastando o passo, um espaço,
onde bata o sol, com vontade, e, aí, se senta,
num lugar sem nome.


Como de costume, nestas alturas, retira gazes
e plásticos, amarrados por uma corda macilenta,
e, ao calor do sol, deixa expostas, as tremendas
chagas, em carne viva, que a má nutrição e falta
de cuidados médicos, tomaram de invasão, seu
corpo frágil…


Seu nome, há muito esqueceu; família não tem
nem se um dia foi casado e teve filhos. Apenas
se recorda, de passar, todas as tardes, pelo
cemitério, onde descansam seus pais, que não
esquece. E, junto às árvores, um mesmo pedido:
que seus pais, o reconheçam, quando ele a eles
se juntar… um dia… um dia… solta-se a lágrima.

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