sexta-feira, 20 de abril de 2007

Página sem Alma


Meus olhos pousam sobre a imaculada
alvura da folha que aguarda
pelo momento em que,
subjugado, vencido num jogo em que a sedução
de uma página sem alma
se alia à insaciabilidade da escrita,
a conspurco com caracteres e símbolos,
sílabas e palavras, frases e orações,
num afã imperioso de tradução do sentir.
A inevitabilidade do verso que irrompe do vazio,
que existe para além da palavra que vive
maculando a brancura, despontando do nada
em que se atola o poema,
imita o compasso, o ritmo do ser que
habita no limbo da existência,
ganhando sentido,
extravasando as alvas raias que o cerceiam,
e mostrando o espaço cheio de buracos de silêncio.
É o silêncio das palavras que escutam
a luz da imponderabilidade e no ocaso
da imprecisão do verbo encontram a razão
da existência.
Não existem imagens balbuciando nas veredas
orladas de palavras geradas para suprir
com emoções as áridas colinas
da imprecisão nublada da minha mente
que possam traduzir a sinfonia
biológica em que se atolam os sentidos,
neste labirinto
em que vogais e consoantes se digladiam
numa dança obscura
pela autenticidade do sonho.
E na caligráfica constelação que inunda
os seus interstícios porosos,
a outrora alva folha
vibra agora com o movimento das sensações
do poeta.

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