segunda-feira, 30 de abril de 2007

Monólogo: da mulher para a poeta

Que versos são esses,
que se atrevem a falar de mim?
Com que autoridade,
mostras minha alma nua
perambulando pela vida, pelos cantos de qualquer rua
em andrajos tantos, que me sufocam saber?
Que fizeste com a minha lenda, colhida que foi essa prenda
em tarde de domingo, idílio ímpar entre eu e o meu mar
que de longa data, estava a me namorar
e só depois, muito depois, foi que eu vim a me apaixonar...
Que inspiração atrevida, usaste para confessar meus pecados
que de tanto não terem perdão, foram esquecidos, à revelia
por mim e pela vida, em proposta indecente do suposto acaso
que me roubou quase tudo, em troca da anistia?...
Como ousas, poeta, mostrar ao mundo os meus secretos
a paisagem que povoa meu coração, num sacrário
mas não faz parte da vida, sequer se alimenta dela a bem da verdade,
foi apenas um sonho. uma escorregadela...
Impertinente!... é o que tu és!
Levando-me das lágrimas ao riso
perturbando e ameaçando meu siso, em ousadias tantas
que alguns desavisados, chamam levianamente, de poesia
como se ser poeta, fosse o que eu mais queria...
Engana-se, minha amiga (... ou não?)
Eu já não sei mais
se és minha amiga de fato, porque não a vejo em meu retrato: um rosto simples, sem maquiagem, sem vaidade, que apenas ama vivermas para isso não precisa de pódio, somente de amor...
Um rosto que anseia pelas águas da cachoeira...pela carícia das ondas do mar, a companhia das gaivotas, sua folia
que não precisa de jóias, nem das luzes das metrópoles
e despreza o vil dinheiro, que a tantos fez refém, até a si própria algum dia...
Canta, se quiseres, poeta... mas canta a minha verdade!
Canta a beleza da vida, a essência da felicidade!
O trinado dos passarinhos, rodeando com amor, os seus ninhos
canta a tigresa, que nunca abandona a quem ama...
Canta a alegria de quem espera, por quem chega sem demora
canta o sorriso que permeia, o rosto contente, de ontem até agora
e o seu amor proclama, aos quatro ventos, aos brados
mas não cante o silêncio das almas penadas, condenadas...
Não quero lágrimas, que delas eu fiz um oceano, agora chega!
Quero a alegria das auroras, que abrem com o sol, os nossos dias
quero o brilho das estrelas, ornamento do céu, onde passeia a lua
quero um sorriso meu, estendendo a mão, a uma criança na rua...
Quero viver a poesia que escreves, como quem canta na chuva...como quem sabe, que a vida é boa e o céu pode esperar...como quem não acredita, que o vento levou suas lembranças queridas...quero viver a poesia, como um filme bom, que foi a minha vida!...
Ou então... por Deus,
deixe-me ficar em paz...
sou só mulher, não quero poetar...

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