sexta-feira, 20 de abril de 2007

Apenas uma rosa

Estendeu-me ela, de imediato, uma rosa branca, e do olhar distante e opaco, percebi que já respirava sem mais ajuda.
Ainda não sei se vi você sentada em minha cabeceira, ou se foi em sonho que senti novamente a sua presença em minha vida, só posso afirmar que chorei.
Por trás dela vi uma longa escadaria e, quando ela reparou o meu espanto, apenas olhou para mim e sorriu outra vez, dizendo que a distância não existe, que estava apenas num patamar mais elevado que o meu, que sempre lembraria de nossa última conversa, e a rosa era mais que um gesto, era a revelação de que agora estava tudo bem.
Como sempre me acontece quando tenho essa sensação, fiquei muda, porque não acreditava revê-la tão cedo... e naquela noite a saudade doeu tanto que pedi por ela.
Enquanto lágrimas escorriam do meu rosto, eu apertava em minhas mãos a rosa branca, ainda um botão apenas, e, segurando a flor pelo caule, senti o aroma de todo um jardim. Nesse momento, fez ela um gracejo e suavemente ouvi sua voz em meu ouvido:
- Não saia daí, vou lá fora e já volto. Foi então que desatei a chorar e a sorrir, pois não era eu que lhe dirigia essas palavras quando ia visitá-la?
Foi ela embora, subindo a escadaria para o céu, e dessa vez fui eu que fiquei olhando ela ir, enquanto o calor de minhas mãos fazia a rosa desabrochar, e de suas pétalas escorriam gotas, como o orvalho vindo em forma de graça divina.
Lá fora ouvi o canto da coruja; e despontavam os primeiros sinais de mais uma tempestade, a qual não vi cair, pois dormi sem mais sonhar acordada.
Lembrei-me da rosa branca, quando fui lavar o rosto, senti seu perfume distante, quando de minhas mãos quentes em contato com a água fria emanou o perfume da saudade.
A chuva continuava a cair, abençoando, com suas gotas, os jardins e suas rosas coloridas.

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