É noite. À Terra volvo. E, lúcido, entro
Em relação com o mundo onde concentro
O espírito na queixa atordoadora
Da prisioneira, da perpétua grade,
__ A misérrima e pobre Humanidade,
Aterradoramente sofredora!
Ausculto a humana dor, que hórrida sinto,
Dalma quebrando o cárcere do instinto,
Buscando ávida a luz. Por mais que sonde,
Mais o enigma do mundo se lhe aviva,
Em diferenciação definitiva,
Mais a luz desejada se lhe esconde!
É o quadro mesológico, tremendo,
De tudo o que ficou no abismo horrendo
De tenebrosa noite de gemidos;
São uivos dos instintos jamais hartos,
As dores espasmódicas dos partos,
A desgraça dos úteros falidos.
É a ânsia afrodisíaca das bocas,
Que nas bestialidades se unem loucas,
As bactérias mais vis ambas trocando
as dolorosas mágoas dos enfermos,
Sentindo-se em seus leitos como em ermos,
Deplorando o destino miserando.
São os ais dos leprosos desprezados,
Tendo os seus organismos devastados
Pela fome insaciável dos micróbios,
Sentindo os próprios membros carcomidos,
Verminados, cruéis, apodrecidos,
Plantando a dor no chão dos seus cenóbios...
É o grito, o anseio, a lágrima do homem
Agrilhoado aos prantos que o consomem,
Preso às dores que se lhe agrilhoaram;
É a imprecação de todos os lamentos
Dentro do mundo de padecimentos,
Dos desejos que não se realizaram.
Pábulo sou dessa hórrida agonia
E nos abismos da hiperestesia
Experimento, além das catacumbas,
Essa angústia indominável, atrocíssima,
Junto da emanação requintadíssima
Do ácido sulfídrico das tumbas,
Trazendo dentro dalma, envoltos na ânsia,
Asco e dó, piedade e repugnância
Pelo espírito e o corpo nauseabundo;
E com os meus pensamentos desconexos,
Vejo a guerra pestífera dos sexos,
Abominando as coisas deste mundo.
Terra!... e chegam-me fortes cheiros acres,
Como o cheiro de sangue dos massacres,
Fétido, coagulado, decomposto,
Escorrendo num campo de batalhas
Onde as almas se vestem de mortalhas,
Desde o sol-posto, ao próximo sol-posto.
Apavora-me o horror dessa miséria
E fujo da imundície da matéria,
Onde traguei meus grandes amargores;
Fujo... E ainda transpondo o Azul sereno,
Sinto em minhalma o tóxico, o veneno
E a desdita dos seres sofredores.
Sem comentários:
Enviar um comentário