terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sobre o fim

Chegará o dia em que você se desinteressará por mim.
Nesse dia, meu rosto sumirá da sua memória e meu nome não fará diferença aos seus ouvidos.
Talvez até os fira, como uma melodia desafinada ou um barulho incômodo, e faça você levar as mãos aos ouvidos ao ouvir falar de mim. Você vai passar pelos lugares onde vivemos risos e lágrimas e nada vai chamar sua atenção, serão apenas bancos de praça e mesas de restaurante.
E nem mesmo as folhas amareladas na calçada ou a brisa salgada da praia farão com que eu apareça nos seus pensamentos.

Chegará o dia em que você vai acordar e eu não estarei mais ao seu lado na cama.
Você abrirá o armário da cozinha e colocará apenas um prato e uma xícara na mesa.
E quando você estiver mexendo o café, não sentirá a minha falta na cadeira em frente, lendo o jornal ou pedindo para que você passe manteiga em um pedaço de pão.
E quando você for trabalhar, não vai se importar se eu não lhe der um beijo no portão de casa ou no ponto de ônibus, desejando-lhe um bom dia no serviço.

Chegará o dia em que você vai sair com os seus amigos e nem vai notar que meu riso não está entre o das outras pessoas na mesa.
Você vai pedir ao garçom que lhe traga apenas um chopp e não dois, porque eu não estarei ao seu lado para brindar consigo.
E quando um daqueles meninos pobres de terno roto lhe abordar, pedindo-lhe que compre uma rosa, você vai sorrir e dizer que comprará em uma outra ocasião, e nem vai atinar para o fato de eu não estar ao seu lado para receber ou agradecer pelo presente.
Quando você chegar em casa e tirar os sapatos à beira da cama, deitar-se-á sem sentir saudades dos meus dedos afagando seus cabelos para que você pegue no sono.
E nesse dia, quando você acordar no meio da madrugada mordendo o canto do lábio inferior, nem vai se lembrar que um dia meu corpo já esteve ao lado do seu, ansioso pela sua febre, seu desejo e sua satisfação.

Até que esse dia chegue, tudo que peço é que você me ame o máximo que você puder.

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