O que separa o homem do animal
É o mesmo que os complementa.
Trazem em sem enorme manancial
Aquilo que a ambos sustenta.
Quando nos tornámos inteligentes
Deixámos para trás o rude e bestial.
Engraçado ver que temos entre dentes
A mesma atitude fundamental.
Mas não somos de todo diferentes,
Que o que nos mantém é a sobrevivência.
E acabamos no fim todos doentes,
Sem que haja aqui grande diferença.
Bípedes e quadrúpedes, vagamos
Ao sabor de nossas necessidades.
Verdade se diga, ambos nos empenhamos
Por fazer parte de uma sociedade,
Arrogante é o homem, julgando-se perfeito
Em toda a sua bestialidade enfim.
A homem e a animal o mesmo direito
Com principio à cabeça, meio e fim.
Se o homem respeitasse o animal
Viveríamos numa sociedade mais feliz.
Mas por torná-lo assim desigual
Dos dois qual deles o mais infeliz?
Seria preciso uma revolução aqui
Que tratasse bem seu semelhante.
Só assim poderíamos pôr um fim
Ao que agora nos é dissemelhante.
O poeta é um homem de massas,
O homem um absurdo de incongruência.
E vivemos do Algarve as passas,
Com tanta inerme e fútil inconsistência.
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