Eu passava, carregado de embrulhos,
E percebi, num repente, a geração dos ciclos
Da vida, que explode sem parar um minuto,
Num solfejo de sonhos de uma tarde fria.
Caía o sol e eu estava sóbrio e triste,
Vergado pelo peso de um mau supermercado,
Que um homem faz, quando separado,
Esquecendo as melhores e mais puras mercadorias.
Estava só. Não havia sombras de albergue,
Somente nuvens cinzas do tanto-faz-da-vida,
Caminhava rápido para minha casa de aluguel,
Quando ouvi um grito limpo, dirigido ao alto.
Era um garoto sarado chamando por minha filha,
Bradando para sua janela, insatisfeito e forte.
Era um homem procurando pela menina
E um sentimento cortante invadiu meu peito.
Já gritei antanho, chamando pela amada,
Numa esperança amena que substituísse o pranto,
De não tê-la sempre ao lado, inteira,
E eis que se repete o doce panorama:
Eu era ele, com o passar dos anos,
E cruzei com meu vulto, sem que ele o soubesse,
De ciúme e orgulho perpassado ao cenho
De um pai oculto, que assistia a si mesmo,
Cumprindo em silêncio o próprio destino...
Sem comentários:
Enviar um comentário