Sento-me a beira do dia,
Vejo passar a vida que plantei...
Foi tudo tão mecanicamente rápido,
Que não dei conta:
Da noite que circulava,
Do vento em minha pele,
Do sol batendo continência para o dia,
Da lua desfilando em retirada,
Do sorriso singelo que não foi retido,
Dos convidados que da festa partiam,
Da ausência da serenata...
Ah... nem mesmo dei conta:
Do próximo cada vez mais distante,
Da bondade adiada,
Da voz em abandono,
Do progresso alucinante,
Do silêncio não ouvido,
Do carinho adormecido,
Da corrida do homem arrogante,
Dos olhos cansados dos que têm esperança,
Da melodia não cantada,
Da flor não brotada,
Da ternura em abismo,
Da vergonha que se escondeu,
De tudo que não nasceu...
Dei conta somente:
Da verdade que morre em meu silêncio,
Dos horizontes que imagino,
Da beleza muda do filantropismo,
Do instante que passa,
Da omissão da ajuda,
Da ignorância do conformismo,
Das buscas que não busquei,
Dos sonhos que não sonhei,
Dos amores que abandonei,
Dos objetivos que não realizei,
Da música que renunciei,
Da dança que não dancei,
Da ilusão do reconhecimento,
De todas as despedidas,
Dos regressos que em vão esperei,
Das idéias escondidas,
Da tristeza do dia que não verei nascer,
Do som de uma nova vida, que não verei crescer...
Hoje...
Ah... hoje... apenas dou conta:
De tudo que fui,
De tudo que nesta vida não serei,
Da capacidade da imortalidade,
Da fidelidade do ponteiro da vida,
Caminhando para a eternidade...
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