Você chegou de mansinho,
Meio arisco, reticente...
Como chega um passarinho,
Que está procurando ninho,
Mas não quer contar pra gente.
Falou tanto, tanto tempo!
Falou quase sem parar.
A prosa sem contratempo,
Virou doce passatempo,
Continuei a esperar...
Sabendo que para ouvir,
Não tinha pressa nenhuma...
Comecei a refletir,
No que eu estava a sentir.
No mar, aumentava a bruma...
Não chamaria de medo,
Mas tampouco de coragem...
Senti ao ver o rochedo
Acenando o meu segredo,
Como quem faz sacanagem.
Naquele exato momento,
Num ato de covardia
Fugia-me o pensamento
Quase gritando o lamento,
De não ter quem eu queria.
E a tarde foi cochilando,
Nos braços daquele mar!
O sol, de leve apagando,
A lua e estrelas chegando,
O dia foi se deitar...
Meu sonho eu vi tropeçar,
Entre as pombas na pracinha...
Querendo se embriagar,
Para esquecer, apagar
Toda a fé que já não tinha.
Se fosse como eu queria,
Como tudo que esperei,
Bem mais tempo esperaria,
Se eu soubesse que teria,
O encanto com que sonhei.
Certeza veio depressa:
- A gente ama a quem ama!
Que razão bandida é essa,
Contra a qual ninguém se estressa?
Dorme no chão tendo cama...
Mas quem manda é o coração!
A vontade é uma mucama,
Que aos caprichos do patrão,
Como o amém de uma oração,
Entrega-se e não reclama.
Eu só pude comprovar,
Tese antiga e pardacenta:
Esse tal de verbo amar,
Que vive-se a procurar...
Amor nasce, não se inventa.
E quem dera a todos nós,
Que se pudesse escolher...
Rio nenhum escolhe a foz,
Que seja lento ou veloz,
Só espera acontecer.
E me dói ter que falar:
- Minha foz não é você...
Por mais que eu ande a rolar,
Sobre as pedras rumo ao mar
Basta olhar, qualquer um vê...
Eu não tenho desejado.
Acontece sem querer...
Meu coração descarado
Gosta de ser desprezado...
O que é que eu posso fazer?
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