segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Para você, que não amo...

Você chegou de mansinho,
Meio arisco, reticente...
Como chega um passarinho,
Que está procurando ninho,
Mas não quer contar pra gente.


Falou tanto, tanto tempo!
Falou quase sem parar.
A prosa sem contratempo,
Virou doce passatempo,
Continuei a esperar...

Sabendo que para ouvir,
Não tinha pressa nenhuma...
Comecei a refletir,
No que eu estava a sentir.
No mar, aumentava a bruma...

Não chamaria de medo,
Mas tampouco de coragem...
Senti ao ver o rochedo
Acenando o meu segredo,
Como quem faz sacanagem.

Naquele exato momento,
Num ato de covardia
Fugia-me o pensamento
Quase gritando o lamento,
De não ter quem eu queria.

E a tarde foi cochilando,
Nos braços daquele mar!
O sol, de leve apagando,
A lua e estrelas chegando,
O dia foi se deitar...

Meu sonho eu vi tropeçar,
Entre as pombas na pracinha...
Querendo se embriagar,
Para esquecer, apagar
Toda a fé que já não tinha.

Se fosse como eu queria,
Como tudo que esperei,
Bem mais tempo esperaria,
Se eu soubesse que teria,
O encanto com que sonhei.


Certeza veio depressa:
- A gente ama a quem ama!
Que razão bandida é essa,
Contra a qual ninguém se estressa?
Dorme no chão tendo cama...

Mas quem manda é o coração!
A vontade é uma mucama,
Que aos caprichos do patrão,
Como o amém de uma oração,
Entrega-se e não reclama.

Eu só pude comprovar,
Tese antiga e pardacenta:
Esse tal de verbo amar,
Que vive-se a procurar...
Amor nasce, não se inventa.

E quem dera a todos nós,
Que se pudesse escolher...
Rio nenhum escolhe a foz,
Que seja lento ou veloz,
Só espera acontecer.

E me dói ter que falar:
- Minha foz não é você...
Por mais que eu ande a rolar,
Sobre as pedras rumo ao mar
Basta olhar, qualquer um vê...

Eu não tenho desejado.
Acontece sem querer...
Meu coração descarado
Gosta de ser desprezado...
O que é que eu posso fazer?

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