sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ainda há esperança

A primeira morte é sempre a mais difícil, mais traumatizante. Porque inesperada talvez. Mas a dor se repete a cada morte, até que se aprenda a morrer ou se morra definitivamente.
Eu ainda não aprendi!

Perdi o jeito de sorrir, mas não perdi a mania de acreditar. E continuo acreditando que a mão que se estende é sempre amiga, que jamais estará empunhando um punhal.

Continuo acreditando que no abraço tem carinho e no beijo tem amor.

E continuo morrendo nos desencontros, nos desencantos, nos desamores, para ressucitar na crença de um novo encontro, de outros encantamentos, de outros amores.

Morrendo um pouco mais todos os dias, ressucitando um pouco mais fraca de cada morte que me ocorre

As solidões são mais duradouras, as presenças mais vazias, as noites mais longas.

Mas ainda há estrelas e lua na minha noite, embora eu só abra as janelas muito tarde.
Ainda há flores nos campos, ainda há crianças sorrindo e eu me enterneço com elas. Ainda há jovens lutando e e eu torço por eles.

Ainda há gente mendigando, se humilhando, e eu sofro com eles. E há crianças famintas e eu ainda me envergonho por isso.

E isso me dá uma certa esperança em mim, na minha possibilidade de vida. Sinto que ainda não morri de todo.
Que ainda me resta força e coragem para arriscar a vida em meio a tantas mortes.

Mas sei que o riso já não brotará fácil, sei que a minha poesia foi pisoteada nas calçadas, sei que a minha canção se desfez e foi passear suas notas pelas estrelas...

Sei que meus olhos perderam o brilho do seu encantamento e que não farei mais descobertas mas constatações.

E sei que já não posso brincar de ciranda, e me chamariam de louca se estendesse o braço para o desconhecido que passa.

Sei que estou limitada, cercada. Por mim mesma. Pelos preconceitos, pela falsidade, pelo ciúme e pela inveja, pelo conforto da cegueira de quem está acomodado e para quem é conveniente não ver.

Mas apesar de tudo, ainda levo fé em mim. Ainda sinto em mim um potencial de amor infinito que resistirá a centenas de outras mortes.

A gente só deixa de sofrer, quando aprende a contabilizar o amor.

Mas nesse amor contabilizado, medido eu seria tão pouco eu, que acho que nem seria... Pois morreria mais fácil e rapidamente
E nem teria tempo para o beijo de despedida.

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