É tarde, os olhos ardem, as costas doem...
mais um dia de expectativa e cansaço...
Sou aquela nau com fome de navegar.
Olho o horizonte buscando alento,
seguindo as nuvens soltas ao vento...
Onde o meu Norte?
Vislumbro enfim o Porto de Chegada...
Plena de renovadas esperanças,
nas águas mansas do rio que escorre
lento e sinuoso,
vejo o contorno de sonhos, tão perto,
que posso quase tocar com as mãos...
No espelho d´água, o reflexo da jornada
quase inacreditável, trajeto heróico!
Viagem ponteada de mudanças,
antes um sonho, ao sabor da correnteza.
Entre assustada, ansiosa
e insegura, mas decidida, avanço!
Aproxima-se lentamente o Porto... o cais,
ancoradouro de mim, de uma nova vida.
As luzes cintilam, guiam-me, e aos poucos,
clareiam a escuridão que me envolvia...
Ouço o Apelo obstinadamente chamando
enquanto o coração responde a palpitar:
"estou chegando"...!
Oh, Porto de Chegada, abre tuas portas,
acolhe-me num doce abraço...
Aqui estou, liberta dos despojos de outra vida
que lancei às águas e a ti me entrego
com a nudez de quem acaba de nascer
Num grito forte, conto pro mundo: Renasci...!
Titubeio, sinto frio,
tento me situar entre hemisférios...
tantas vidas... repartidas, reunidas...
Já não pertenço ao Passado
e sou Futuro em tempo de Agora.
Lanço âncoras que me seguram
enquanto a correnteza leva em seu curso,
o resto desse parto que me devolve à Vida.
Ofegante, vou chegando...
Manobro com cautela a suave atracação
e enquanto me prendo ao cais,
dispara uma ansiedade desmedida;
A espera sufoca, as mãos tremem,
quase desfaleço...
Ouço mais forte o 'apelo' que me guiou,
minha bússola, o farol
sinalizando um morse que só eu entendia, aflita,
na impaciência dos procedimentos finais...
Chão firme, Terra de Esperança,
oásis brotando de um deserto secular,
homérico oceano conquistado...
Oscilam as luzes, pára o tempo e
por um momento,
apenas murmúrios entremeados de beijos,
sorrisos, afagos e soluços...
Aportamos.
Meu coração e eu.
Únicos tripulantes dessa nau valente,
disposta a navegar de continente a continente!
- E nossa bagagem era só o Amor... -
A Cidade sorriu...
Demos as mãos e caminhamos por uma viela.
A noite escorregava mansamente...
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