Quem procuraria outra mulher tendo uma como ela - corpo de vinte, rosto de trinta - em casa?
Apavorada com a perspectiva de envelhecer e o marido trocá-la por uma mais moça, fez plástica atrás de plástica. Resultado: tem cinqüenta anos mas um corpo de vinte e um rosto de trinta, se você não olhar muito de perto. Alisou as rugas, tirou daqui, enxertou ali, levantou acolá - o acolá é sempre o primeiro a cair - e conseguiu: não envelheceu. Mas no outro dia contou que o marido a trocara por outra.
Estava inconsolável, só não podia chorar para não desmanchar a maquiagem. Tentaram consolá-la assim mesmo, chamando o marido de tudo. Inclusive de cego, pois quem procuraria outra mulher tendo uma como ela - corpo de vinte, rosto de trinta - em casa? Os homens não tinham jeito. Em muitos deles, amadurecer era uma forma de voltar à adolescência. Iam em busca dos hormônios perdidos e só encontravam o ridículo.
Não me façam chorar, não me façam chorar - pedia ela.
As outras mulheres começaram a desenvolver teses sobre o que leva homens mais velhos a procurar mulheres mais moças. Pânico sexual, antes de mais nada. Descontadas, claro, as falhas naturais do caráter masculino, que também se acentuam com a idade. Mas ela que esperasse. Cedo ou tarde, ele se cansaria da mulher mais moça, ou ela se cansaria dele e...
- A outra não é mais moça - interrompeu ela. - É mais velha do que eu!
Abriu-se uma clareira de espanto. O quê? Mais velha?!
E ela contou que a outra nunca fizera plástica, que a outra nem pintava os cabelos. Era uma senhora grisalha, matronal, exatamente do tipo que ele esperara em vão que ela ficasse, segundo ele mesmo dissera. Sim, porque ela fora pedir satisfação, disposta, inclusive, a bater na outra. Não só não batera como acabara ouvindo conselhos da outra, num tom maternal, sobre como envelhecer com naturalidade.
O que mais doera fora o tom maternal.
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