quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

TORNE-SE O VERDADEIRO VOCÊ, A PESSOA QUE FOI DESTINADA A SER

A prática da meditação cultiva especificamente a plena atenção de cada momento. Quando estamos conscientes, é significativa­mente menos provável que tenhamos uma reação reflexa diante de todos os botões emocionais, ou samskaras, que nos foram implantados por eventos ou comportamentos passados.



Nenhum de nós quer passar pela vida reagindo irrefletidamente em fun­çào de antigos condicionamentos e preconceitos distorcidos do passado. Todos já passamos, por exemplo, pela experiência de dizer sem pensar, coisas que ouvimos nossos pais dizerem; essa é uma das maneiras pelas quais o preconceito e a intolerância são passados adiante.



A plena atenção nos ajuda a nos relacio­narmos com os outros de uma maneira que é possível sermos mais leais com quem realmente queremos sê-lo;



ajuda a sermos mais autênticos, o que, por sua vez, auxilia-nos a conectar os nossos relacionamentos à realidade presente e ao tempo atual. Está na hora de nos colocarmos em dia, por assim dizer.



Aplicar esse nível de consciência às nossas interações com os outros não significa que estamos simulando, manipulando ou tentando ser falsos com os nossos sentimentos e emoções.



Estamos simplesmente procurando ser mais atentos, compas­siyos e virtuosos - mais parecidos com o Buda em tudo que fazemos.



A premissa fundamental do budismo é a seguinte: cada um de nós, no fundo, é um Buda. Todos somos Budas. Cada um de nós possui inerentemente a compaixão e o amor de um Buda;



cada um de nós possui a virtude e a moralidade de um Buda; cada um de nós possui a paciência, a aceitação e a tolerância de um Buda; cada um de nós possui a energia espiritual e a capaci­jade de resistência de um Buda; cada um de nós possui a con­rentração e os poderes meditativos de um Buda; cada um de nós

o DESPERTAR DO CORAÇÃO BUDISTA



possui dentro de si a sabedoria de um Buda em potencial. Tudo isso está latente dentro de nós. Tudo que temos a fazer é deixar desabrochar o nosso tesouro espiritual interior.



A meditação é uma técnica que nos ajuda a retomar à nossa natureza fundamental, original - a nossa natureza de Buda. Estamos praticando para reagir a tudo na vida a partir desse nú­cleo básico de bondade essencial. Estamos treinando para aban­donar as ilusões, fantasias e distrações que confundem a nossa vida;



estamos aprendendo a "desistir" das reações e hábitos con­dicionados que nos impedem de prosseguir.

A prática da medi­tação é uma ferramenta que nos ajuda a abandonar os espinhos do condicionamento e descobrir o belo, sábio e amoroso Buda enterrado debaixo da lama. Esse é o verdadeiro você.



Se você quiser saber como reagir e o que fazer em cada situação da vida, pergunte a si mesmo como o Buda reagiria ­o que o Buda faria? Se quiser saber o que fazer na vida, per­gunte a si mesmo o que a Sabedoria e o Amor fariam em uma situação assim.



Quando principiamos com essa base, essa in­tenção, começamos a criar um modelo, um gabarito, para a maneira como nos relacionamos com as outras pessoas. Sem dúvida, a vida é dificil. Cabe a nós tentar tomá-la mais fácil e feliz - tanto para os outros quanto para nós mesmos, para que todos possamos ter o que precisamos e almejamos. Essas são as intenções de um Buda.



ABANDONANDO AS EXPECTATIVAS DE "PERFEIÇÃO"



Pouco antes do Natal de 1999, levei minha maravilhosa cadela, Chandi, para aparar o pêlo. Quando o profissional terminou, ela parecia tão fofa quanto um coelho angorá branco.



Ele até mes­mo colocou um delicado laço vermelho e verde em sua coleira. Ao voltarmos para casa, cometi o erro de deixar que ela fosse passear sozinha pelo terreno ao redor da casa. Poucos minutos depois, ela havia descoberto o monte mais fedorento e mais sujo de "alguma coisa" que conseguiu encontrar e ficou rolando nele de um lado para o outro.

Quando terminou, até mesmo o laço vermelho estava molhado e imundo. Lá se foi a minha imagem da cadela bela e perfeita.



Nunca é fácil enfrentar o fato de que nada é perfeito. Não ficamos zangados com as pessoas que nos são importantes quan­do elas revelam falhas que preferiríamos não ver?



O Buda nos fez lembrar repetidas vezes que tudo é defeituoso. Essa é a rea­lidade. Realidade significa tirar os óculos coloridos que estamos usando - quer a lente deles seja rosada ou escura. A meditação nos ajuda a praticar a visão clara, a enxergar o mundo sem distorções, direta e objetivamente.



Na qualidade de buscadores espirituais, estamos empenhados em cultivar a visão clara, a audição clara e o pensamento claro - em resumo, a percepção clara. Isso conduz à sabedoria e à verdade.



Essa é uma interessante abordagem a ser aplicada às nossas interações com os outros, visto que a área dos relacionamentos interpessoais é aquela na qual temos a maior probabilidade de ser guiados por fantasias e expectativas irrealistas. Todos não nos agarramos às nossas fantasias a respeito de como as coisas e as outras pessoas deveriam ser?



Ficamos zangados com os nos­sos pais porque nem sempre são perfeitos; ficamos zangados com os nossos filhos porque nem sempre são perfeitos; ficamos zangados com os nossos companheiros porque nem sempre são perfeitos.



Quem não se agarra à fantasia da "alma gêmea", na qual a pessoa que amamos é sempre capaz de se relacionar conosco a partir de um entendimento e aceitação perfeitos - uma princesa ou príncipe encantado que para nós pode ser como um salvador.



Os buscadores freqüentemente têm a tendência de idealizar em excesso e, por conseguinte, são particularmente propensos a ter expectativas irrealistas. Podemos, por exemplo, ficar de tal modo apegados às nossas fantasias e à nossa Princesa ou ao nosso Príncipe Encantado que minamos todos os nossos relacionamentos por causa de exigências baseadas em expectativas impossíveis de serem satisfeitas.



Com freqüência, somos de tal modo domi­nados por fantasias a respeito do que deveria ser que deixamos




de reconhecer, ou apreciar, o que existe. Abordar a vida com expectativas é um convite à frustração. Não obstante, sem ex­pectativas, não experimentamos desapontamentos.

Marge e Patti são duas mulheres casadas com homens de idiossincrasias semelhantes. Dan, o marido de Marge, não gosta de festas e se recusa a acompanhá-Ia à maioria dos eventos sociais.



John, o marido de Patti, se sente da mesma maneira. É nesse ponto que as semelhanças terminam. Marge é de opi­nião que maridos e esposas só deveriam se divertir juntos e declara se sentir mal por sair sem o marido; nas noites em que eles recebem algum convite, ela fica em casa com Dan e se queixa do ocorrido.



Patti, por outro lado, despede-se de John com um beijo, sai, diverte-se com os amigos, volta para casa algumas horas depois e faz uma boquinha enquanto bate um papo com o marido. Marge e Patti lidam com questões semelhantes de uma maneira tão diferente, que toda a dinâ­mica dos relacionamentos é modificada.



Diante da mesma situação, uma delas fez uma escolha exeqüível e satisfatória, enquanto a outra escolheu não solucionar o problema do seu relacionamento.



Os ensinamentos budistas sistematicamente nos fazem lem­brar de que tudo é relativo. Há relativamente pouco tempo fui a uma festa de Ano-Novo nos arredores de Boston. A temperatura do lado de fora era de pouco mais de sete graus, e todos estáva­mos comentando que estava muito quente. Se estivéssemos no meio do verão, em julho, todos estaríamos nos queixando do frio.



Esse fato é um bom exemplo de como os nossos conceitos e expectativas alteram todas as nossas experiências, até mesmo com relação à temperatura.

Esse fenômeno ressalta outra maneira pela qual podemos

nos apegar aos nossos pontos de vista, opiniões e idéias a res­peito de tudo, inclusive de "como a vida deveria ser". O pro­fessor vietnamita Thich Nhat Hanh escreveu o seguinte: "O apego às opiniões é o maior obstáculo à vida espiritual."



Alguns dos enganos mais comuns que as pessoas cometem com relação ao budismo envolve o ideal do desapego; elas freqüentemente pressupõem que ser budista significa desistirdaqueles que amam. "

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