segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O POETA E A POESIA

O poeta acordou no início da fria alvorada

E, sem arredar as cobertas, por ali foi ficando,

Quieto, ouvindo a onomatopéia do vento brando,

Soprando, num lúdico farfalhar, folhas secas na calçada.



O poeta traçou mecanicamente sobre si o Sinal da Cruz

E, asseverando segurança plena, deixou o leito macio.

O cérebro, cobrando agilidade do corpo impactado pelo frio,

Acelerou-lhe os passos, qual libélula sem asas em direção à luz.



O poeta, sem deixar o trilho da inércia, ansiando a claridade solar,

Destravou a porta de entrada da casa, invocou a guarda do Anjo Amigo

E,convicto da Divina bênção da Mão Protetora que afasta eventual perigo,

Cruzou a soleira, envolvido pelos doces cantos das aves espalhados no ar.



O poeta sonhador, dado a sonhar maravilhosos sonhos reais e multicores,

Por um instante, voltou no tempo, aos idos áureos da infância interiorana,

Do cheiro de mato, do manso regato, do café da mãe com açúcar da cana,

Do céu azul, do chão tomado pelas flores e dos corações cheios de amores.



O poeta, entregue ao transe, embarcou na nave do sonhar

E parecia ao passado tão apegado como não querendo de lá voltar.

Mas o gracioso joão-de-barro, com seu canto estridente o fez acordar.

Então, meio sem jeito, gritou aos quatro ventos:

Volvo ao passado, sem esconder a nostalgia,

Posto que sedimenta o meu casamento com a Poesia.

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