quinta-feira, 27 de março de 2008

Histórias de amor

Um dia eu vi, na praia, e todos viram,
Duas gaivotas que não se entendiam,
Mal humoradas, brutas, agressivas...
Parece que gritavam entre si
Como quem chega ao inegável fim,
Bicavam-se com ira, enfurecidas!

Na cruel cena, revi meu passado...
Quando um grande amor, tinha do lado,
E achava que seria para sempre.
O destino, carrasco implacável,
Se encarregou do fim inabalável,
Dilacerando a alma e até o ventre...

No princípio, foi triste acreditar,
Difícil de entender e de aceitar,
Mas o silêncio deu-me as suas notas...
Com elas fiz a nova sinfonia,
Para emprestar à vida, sem magia,
Depois da minha "briga de gaivotas"...

Mas à tardinha, eu voltei à praia...
Sentei-me perto de onde o mar desmaia,
Vendo que as ondas queriam gritar,
De tão felizes com o doce afago,
da areia quente, onde passavam ao largo,
como quem vem ao leito se deitar...

Inebriada com a visão que tinha,
Não percebi que ao lado, uma avezinha,
Entoava notas para o verbo amar!
Quando olhei, vi um doce bem-te-vi...
Contou-me que há muito estava ali,
E era feliz só por poder estar...

O seu amor, sobrevoava o mar...
Aonde ele nunca iria alcançar
Mas a paixão jamais o deixaria!
Atentamente, eu fui ouvindo tudo,
até que o passarinho ficou mudo,
Por ver que me mostrara o que eu queria.

Um amor assim, feito da paz dos dias,
Sem ser banal, sem misturar manias,
Porém, tão grande, que faltasse o ar!
Dobrei, com calma, a folha da cartilha,
onde a lição mostrava-me a trilha,
que eu deveria seguir, caminhar...

E foi assim, tão simplesmente assim,
Que eu pude ter o que sonhei pra mim,
O amor que nunca fere, nem tortura...
O amor que afaga a alma e a consola,
Que nunca faz o coração de bola
num esporte que é pura desventura.

Com isso feito, ninguém mais partiu.
E quando ouço o apito do navio,
Nas manhãs serenas, o café na mão...
Já não me assusta e nem me apavora,
Não é ninguém que chega ou vai embora
Pois meu amor está no coração!

Alguns dirão que meu conceito é louco.
Eu digo que ser louco, ainda é pouco!
Num mundo onde quem pensa ser normal,
Mata sem fome, tripudia e fere,
deixa a mão estendida que espere...
A loucura tem meu aval maternal!

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