sábado, 3 de janeiro de 2009

Os filhos do caos

O hálito aquecido das ruas pobres me traz os suores da inspiração — uma realidade cruel transpirando o descaso das próprias massas; as agressões juvenis, os nomes ofensivos, raça contra raça, um amontoado de seres estranhos, humanos estuprando a tarde dominical, ferindo as calçadas com o lixo das bocas.

Adolescentes se comendo nas esquinas, filhos e filhas de um falo qualquer disputado a tapas — troféu de ventre, barriga medalhada e, depois, a cria da desinteligência —, bebês comerciados, pensão alimentícia, padrastos pedófilos e assassinos, madrastas ciumentas queimando criancinhas e uma cena dramática frente às câmeras de TV; os conspiradores clamando deus e Jesus, alguns gritinhos de justiça... e o replay.

O replay dos canais; a morte ao vivo! Cinco, seis... tantas vezes a exclusividade em câmera lenta, em ângulos mil e versões supostas em todos os jornais por dias e dias.

Então, a mesma estupidez diante dessa imunda lavagem cerebral é copiada por mais outro idiota sanguinário sequestrando os seus minutos de fama, e a mesma história mundana e novamente contada com outro nome e sobrenome; uma gêmea reportagem.

Mais uma vez a justiça sorridente é bradada pela mesma boca que deixou a quem dará a sua prole marcada pelo sofrimento, pelo caos da ingerência dessa produção de fetos não quistos, não amados — brinquedinhos substituíveis.

Amanhã será igual e nenhuma justiça divina ou humana impedirá a soltura das mãos que sangraram os filhos do caos, os netos do replay... as fotos nos jornais!

Mãe! Pai? Talvez será essa a última frase da outra pequena peça, a próxima criança que morrerá sem porquê.

Será somente mais uma foto com a tarja preta nos olhos anunciando a manchete cotidiana, tarja igual à da própria justiça, idêntica à ceguidade de um poder atado, que pouco se importa com as ruínas da nossa sociedade, sociedade essa consciente da impunidade, dos indultos, ou adormecidas pessoas esperando um novo massacre.

Pai, mãe... são muitas as exceções, é claro, porém eu não aguento mais ver o futuro do Brasil ser apagado nesse hoje sem leis, sem punições sérias, sem planejamento, sem educação, sem amor, sem nada...

Sem ter que repetir isso novamente!

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