sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ENLOUQUECIDO DE AMOR

Sem pejo algum nem descabido receio,
que sempre parte dos outros,
fazendo-nos passar, por pensarmos, que
merecemos, muito menos, do que em
verdade nos cabe, saio à rua, meio que
enlouquecido, mostrando, a quem queira
reparar, que, a tua saudade, me castiga:
carne, nervos, sangue, meus sentimentos
mais profundos, que jamais ousarei
esconder, porque nunca temi, por minha
humildade e verdade, qualquer rude ou
maléfico mal presságio.


É pois que, enfrentando, riso e escárnio,
meu ser indiferente, percorre rua atrás de
rua, para, quem sabe, encontrar-te, no
rosto de algum desconhecido, ou, pura e
simplesmente, ao deter-me, junto a uma
árvore centenária, escutando mavioso
cantar, ser de tua voz o timbre conhecido,
este que, a meus ouvidos, eu atento, em
tamanha felicidade, e que, leva-me, senão
por insano caminho, perdido em mim, para
algo, bem mais atroz e violento, e, que sem
ti, meu amor, deixa-me à beira da loucura.


Enquanto vagueio, absorvendo o sol quente
da tarde, vejo-me a colher, algumas flores
silvestres, pensando quais mais gostarás,
e, aos poucos, tenho em minhas mãos, um
belo ramo, juntando-se-lhe algumas chagas,
de sangue vivo, ao arrepio dos mil espinhos,
que apenas se defenderam, de minha
sombria demanda, em território alheio, à
minha pessoa, atrevendo-se, no julgar direito,
de entrar por ali adentro, quebrando caule
sobre caule, só para sentir um sorriso, nos
teus olhos, e, por breves instantes, teu ser.


Ensanguentadas mãos, por fim, resignadas,
adormecem a dor, dentro de um pequeno
riacho, onde recuso pousar meus olhos, por
saber-me sozinho, mas, junto a mim, do
campo as flores, guardadas irão ficar, até à
tua tão ansiada chegada, das fartas festas.
E assim, cabisbaixo, enfrentando miles de
olhares, ao coberto de sombras e de sua
ingenuidade, meu peito, perfeitamente
desnudo, absorvendo todos os impactos,
vergonha não lhe sobreveio, por tamanha
demonstração de amor… regresso a casa.

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