terça-feira, 28 de agosto de 2007

O ÚLTIMO DIA DA MINHA VIDA

Vou viver o dia de hoje como se fosse o último da minha vida, como se eu não fosse ter um amanhã.
Assim, darei muitos sorrisos, espalharei muita alegria e nada de lágrimas.
Tentarei correr até as pessoas que estão distantes de mim e que me fazem tanta falta, que seja apenas para abraçá-las.
Falarei das minhas mágoas com quem as causou. Será um mero desabafo para aliviar a minha alma e falarei de amor com aqueles que me amaram, que me quiseram bem, que me valorizaram.
Deixarei o sol queimar a minha pele, naturalmente, sem preocupação de adquirir manchas e possíveis doenças. Tanto tempo me preocupei com o filtro solar, hoje deixarei ele esquecido dentro da bolsa. Quero que cada raio de sol penetre tão profundamente na minha pele que consiga alcançar e aquecer meu coração.
Ao cruzar, na portaria do meu prédio, com aquela vizinha do terceiro andar que anda apoiada numa bengala vou puxar assunto, perguntar como ela está e lhe darei um bom dia especial.
Vou reunir as pessoas que não gostam de mim e dizer que jamais desgostei delas, que talvez apenas elas não tenham me conhecido o suficiente a ponto de me julgarem negativamente.
Vou dar o perdão para aqueles que erraram comigo e desejar de coração que sejam felizes.
Vou caminhar pelas ruas descalça, cabelos ao vento, roupa tão simples que nem vão me notar.
Quem sabe eu pegue três bolinhas e fique embaixo de um sinal/farol fazendo malabarismo para com isso conhecer um outro lado da vida.
Vou visitar uma favela, conhecer todos os seus becos e cumprimentar pessoas tão diferentes e, também, tão iguais a mim.
Vou pegar um ônibus no ponto final, sentar na janela e rodar toda a cidade observando suas discrepâncias.
Vou até um parque de diversões andar na montanha russa e na roda gigante. Quero sentir primeiro a adrenalina e depois provar de um calmante.
Vou passear por jardins, colher flores e dá-las a primeira criança que passar por mim.
Visitarei um hospital, darei carinho e direi palavras animadoras para quem estiver sofrendo.
Para os meus amigos eu falarei, simplesmente, obrigada por tudo que fizeram por mim. Obrigada pelo carinho que me dedicaram, pela atenção que me deram, pelo apoio incondicional nas horas que eu mais precisei.
Talvez eu faça uma visita a um presídio para dar um alô a tantos que padecem por ali por não terem dado rumos dignos à suas vidas.
Vou querer dizer algumas palavras às mães. Direi à elas que o futuro de seus filhos depende, dentre outras coisas, da educação e do carinho que eles receberem delas.
Direi aos pais que não se ausentem, que não imaginem que tudo que se relaciona com seus filhos as mães podem resolver. Mães muitas vezes precisam de socorro.
Tentarei provar aos deprimidos, infelizes, aqueles que padecem de doenças psicológicas e psicossomáticas, que muito do que sentem pode ser controlado por eles mesmos, basta acreditar na vida e na sua capacidade de enfrentá-la.
Vou avisar aos supostos poderosos que tudo aqui é tão passageiro e que quando eles menos imaginarem estarão lado a lado com aqueles que eles espezinharam, maltrataram, feriram e humilharam e que por isso vão se envergonhar de no final tanto poder não ter valido de nada.
Não existem pessoas melhores ou piores, existem as que lutam para ser melhores e as que fazem questão de ser piores.
Vou pedir perdão, não sei exatamente a quem, mas com certeza existe alguém que gostaria de ouvir da minha boca - Me perdoa?
Vou querer sentar uma última vez num bar e tomar uns chopes com aquela amiga especial que fazia as horas parecerem minutos sempre que nos encontrávamos.
Vou procurar meus antigos relacionamentos amorosos e dizer a eles que eu fiz tudo que estava ao meu alcance pra dar certo, que eu dei o melhor de mim e que embora alguns não tivessem merecido eu não me arrependo de ter agido assim.
Vou me desculpar por em certo momento da minha vida ter me tornado um pouco egoísta e ter começado a cuidar mais de mim do que de outras pessoas.
A vida me ensinou que em certos casos excesso de dedicação às pessoas pode ser prejudicial para nós mesmos pois corremos o risco de esquecermos de nós, de nos abandonarmos por completo.
Direi a todos que se aproximaram de mim com o intuito de me usarem, de me sugarem que eu sempre soube exatamente quem eram eles e por isso tive o cuidado de me proteger de energias tão negativas.
Vou confessar, finalmente, ao mundo que eu nunca fui a fortaleza que demonstrei ser. Eu também tenho defeitos, fraquezas, carências, necessidades, urgências, mas por absoluta culpa minha deixei que as pessoas acreditassem que eu podia tudo, que eu era capaz de resolver ou consertar a vida de qualquer pessoa.
Ao final do meu dia conversarei com Deus, pedirei a Ele que se possível me arrume um cantinho aconchegante lá em cima e meu argumento para que Ele atenda ao meu pedido será explicar que eu sei que não fui o melhor ser humano do mundo, mas que pelo menos eu tentei ser alguém que passou pela vida e deixou uma marca positiva na maioria dos corações.

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