sábado, 2 de abril de 2011

FLOR QUEIMADA

Minha voz teima em não se calar,
rodopia, gira, contorna,
não se enfeita de flores
nem se adorna de roupa colorida.

É feita de nervos e de sangue, setas
nos braços, relembrando a dor,
dos que se passeiam sem nada,
nem pão nem água nem cor nem som.

Boca de escárnio, rasgando o rosto,
o estupro da mente cansada,
ser igual a tantos outros, os demais,
como alimento para as esconjurações.

Morte lenta ainda em vida, jazem no
chão as flores queimadas, pelo toque
da mão absurda, a carne, o cheiro,
mais o quanto nos é possível aguentar.

Olhos abertos à evidência nocturna,
sombras de gatos, amaciando os muros,
e eu que vou nesta vida a cantarolar,
sou excepção à verdade oculta, dissimulada.

E calo e respeito, a dor que vos dói…

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