terça-feira, 30 de outubro de 2007

MEDO DA VELHICE. VÊ SE PODE!

Aqui neste mural
Nesta escola que tão diferente me tratam
Abestalhado li o que um alguém escreveu
Nada mais nada menos que:
... tem medo da velhice,
... Que essa pessoa não quer ficar velha
... Que essa pessoa não gosta de velhos.
Vejo que essa pessoa,
Não tem mãe
Não tem pai
Não tem avô
Não tem nada.
Simplesmente, não é nada...

Está, essa aberração literária,
Datada de 04 de maio, quinta-feira.
Hoje é segunda-feira,
E essa porcaria nojenta,
Está no mural desde quinta-feira
E os coordenadores não arrancaram daqui.
Os professores não vêem.
A diretoria não tomou conhecimento...

Engraçado que ao pedirem uma redação
Semanas atrás,
Estava indicando que nós os alunos
Deveríamos mostrar
- Usaram como termo: tese -
*Nem conheço direito essa palavra.
Vou buscar no dicionário*.
Não vou usar essa palavra,
Vou usar como que sei.
MANDARAM ESCREVER SOBRE:
O que esperamos de nosso país?
O que poderíamos fazer por nosso país?

Papo firme:
Acho que futuquei a onça com um pequeno
Pedaço de pau...

Além de me passarem um sabão
Devido ao fato
De expressar minha verdadeira visão,
Quanto à tão esperada redação,
Ainda tiraram-me pontos,
Deram-me três dias de suspensão.
Incrível!
E aqui no mural,
Fica exposto uma aberração literária dessa.
Olha que estou usando o termo: literária.
Até agora não ouvi rumor algum
Para saber quem foi o artista
Ou a artista que de sua mente,
Uma lata de lixo,
Pôde escrever e expor aqui neste mural
Um porcaria dessa.

Em minha redação,
Eu só escrevi que da forma
Que “MEU” país está sendo conduzido,
Dele eu não espero nada...

Em minha redação,
Eu só escrevi, o que fazer por um algo
Se esse algo nada faz por mim.
Ou seja,; o que fazer pelo país se o país
Nada faz por sua boa grande parte de habitantes...


Escrevi em minha redação,
Que era só olhar para o norte/nordeste.
Era só olhar para os morros e seus barracos de madeira.
Era só olhar para o grande número de crianças,
Que vivem nos morros
E não tem como se matricular nas escolas primárias.
Isto, quando elas, as escolas, aceitam.
Porque na maioria,
Tem que ser branquinho e morar num bom apartamento
Ou uma boa casa.
Na verdade, o morro não tem vez.
Será que, quem mora nos morros não são brasileiros?...

Escrevi em minha redação,
Que é só olhar para os mendigos espalhados
Por todos os cantos de nossa cidade
E a resposta estará dada...

Em minha redação,
Escrevi que antes de tudo,
Antes de pensarmos do que esperar de nosso país,
Tínhamos que fazê-lo crescer
No sentido,
De que venhamos combater a pobreza e a miséria.
Aí sim,
Seria um passo enorme
Para pensarmos do que esperar de nosso país
E no que podemos fazer de melhor por nosso país.
Agindo dessa forma,
Estaríamos fazendo algo
Verdadeiramente de importante por nosso país.
Mas não é isso que vemos.
Não é isso que se encontra no cardápio
Dos fardadinhos e nem dos engomadinhos...

Jogaram-me na parede
Disseram-me que tenho instinto comunista.
Ora, se olhar pelos menos favorecidos
É ter instinto comunista,
Então eu não só tenho o instinto, sou comunista.
O que esperar de “MEU PAÍS” se ele
Apenas tem olhos para os que ostentam fortunas
E despreza os que são “RICOS, MAS DE POBREZA”.

Agora não sei quem,
O infeliz,
O desequilibrado ou desequilibrada,
Que ao postar no mural central desta escola
Onde todos os tipos de classes desfilam,
Diz não querer ficar velho ou velha.
Diz ter medo da velhice.
Diz que não gosta de velhos.
Tenha a santa digníssima e ignorante paciência!

Eu não tenho medo da velhice,
Gosto de estar no meio de quem bem mais idade
Do que eu venha ter.
É com os mais velhos
Que aprendemos passos dos bons caminhos.
Os meus,
Sei que são bons.
Sei que são bons,
Porque do outro lado do muro dessa escola,
Sei que mora a fome
E não existe uma viva alma
Que vá ao outro lado da calçada,
E ofereça um prato de comida a quem tem fome.
Que pegue essa gente,
As levem para uma instituição
E façam um trabalho de resgatarem suas identidades
E reingressá-las a sociedade
Dando-lhes empregos e moradias.
Isso ninguém pensa em fazer.
Eu não posso fazer,
Só tenho dezesseis anos
E sou órfão de pai.
Meu pai quando vivo,
Olhava para os menos favorecidos
E sempre estava disposto a ajuda-los.
Eu nada posso fazer
A não ser usar de minhas escritas
Tentando levar aos adultos
Algum pontinho de verdade.
Mas não, me chamam de comunista.
Na verdade,
Também quase nem sei o significado desta palavra.
Não importa;
Desde o momento que não seja ladrão, assassino,
Aceito o título.
Não fugindo de minha proposta,
É só olharem bem para o outro lado da calçada
E vão acabar vendo
O que os livros não mostram.

Danem-se os que condenarem o que aqui escrevi
E estou colocando bem debaixo
Desta nojenta e suja declaração
Desse alguém,
Que vai ficar pra semente,
Desse alguém que não envelhecerá nunca...

Medo da velhice:
Não se deve ter medo da velhice.
Não se deve desprezar os mais velhos.
Os mais velhos,
São os bons caminhos da sabedoria.
Na verdade,
Nós temos que ter medo
São desses facínoras que usam fardas,
Que mandam nossos sábios para o exílio,
Que torturam em seus porões
Pessoas que lutam por um país melhor
E de igualdade.
Devemos é ter medo sim;
Dessa corja que me tiraram pontos
Dessa corja que me suspenderam
Dessa corja que de tudo fazem,
Para nos mostrar,
Que vivemos num país de igualdade
Que na verdade,
O que se vê por inteiro,
É pura desigualdade.
Temos que ter medo sim,
Dessa corja que se Deus permitir
Hão de me expulsar desta fábrica de fabricar
Anti-brasileiros...

Assim eu escrevi.
Estarei lendo uma cópia no pátio
Em voz bem alta pra quem quiser me ouvir.

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